13 de Maio: As mulheres na abolição da escravatura no Brasil

Site Mulheres de Luta relembra algumas importantes mulheres que lutaram pela Abolição da Escravatura no Brasil

Foram mais de três séculos de escravização, cerca de 4,9 milhões de africanas e africanos que enfrentaram o aprisionamento, a cerceamento da liberdade e as torturas. A sociedade brasileira ainda sofre as consequências desse crime – basta observarmos a desigualdade social no Brasil, o racismo e a violência constantemente empregada contra mulheres negras e homens negros.

A abolição não foi um presente da filha do imperador. A abolição foi conquistada após inúmeras lutas de mulheres negras e homens negros. O Mulheres de Luta relembra algumas importantes mulheres que lutaram pela Abolição da Escravatura no Brasil.

Aqualtune, a Princesa do Congo

“Foi vendida como escrava

Chamada reprodutora

Imagine o pesadelo

Que função mais redutora

Pois seria estuprada

De escravos genitora.”

(Aqualtune, de Jarid Arraes)

O poema de Jarid Arraes nos conta um pouco da história da princesa africana. A escritora, poeta e cordelista brasileira é também fundadora do Clube da Escrita para Mulheres, que se empenha em encorajar mulheres que escrevem ou querem escrever. O poema de Jarid conta a história de Aqualtune que, após a derrota de seu povo em uma guerra, foi escravizada.

Como narra a escritora, Aqualtune foi vendida e levada a um navio negreiro. Após resistir à fome e à febre do navio negreiro, foi vendida novamente como escrava reprodutora, assim que chegou ao Brasil. Aqualtune foi constantemente agredida fisicamente, estuprada e vendo seus filhos serem tirados dela e sendo vendidos e escravizados – mas uma palavra descreve uma característica especial em Aqualtune: a resistência.

Ao tomar conhecimento do Quilombo dos Palmares, Aqualtune, que estava nos últimos meses de gravidez, organizou uma fuga e liderou um dos mocambos que recebeu seu nome. Vivendo sob constante ameaça, mas como uma mulher livre, Aqualtune deu à luz Sabina, que se tornaria mãe de Zumbi dos Palmares.

A data do falecimento de Aqualtune, bem como a causa de sua morte são desconhecidas. Há indícios de que ela tenha falecido em uma emboscada no Quilombo, outra versão aponta que ela faleceu em outra comunidade.

Luíza Mahin, a quituteira abolicionista

Luíza Mahin nasceu na Costa da Mina, na África, ou na Bahia, não sabemos ao certo. Mas há registros de que em 1812 ela comprou sua carta de alforria e se tornou uma requisitada quituteira em Salvador. Em seu tabuleiro, Luíza também levava mensagens escritas em árabe que distribuía através dos meninos que compravam seus quitutes.

Foi assim que Luíza Mahin se envolveu na revolta dos Malês, em 1835, e na Sabinada, entre 1937 e 1938. No entanto, Luíza passou a ser perseguida pela sua participação nas revoltas. Teve que fugir deixando para trás seu filho de 5 anos, que ficou aos cuidados do pai – um homem branco que, para saldar dívidas de jogo, vendeu o filho quando ele tinha 10 anos. Mas o menino cresceu, conquistou sua liberdade, tornou-se advogado e deixou seu nome na história da abolição da escravatura brasileira.

Seu nome era Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas do Brasil, que contribuiu à libertação de 500 escravizados. Embora muitos digam que não há documentos que comprovem a existência de Luíza Mahin, o próprio Luiz Gama cita Luíza em uma de suas cartas. A carta foi destinada ao jornalista carioca Lúcio de Mendonça, e dizia: “Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina (Nagô de Nação), de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.”

Luiz Gama também cita na carta que Luíza Mahin fugiu para o Rio de Janeiro, e que poderia ter sido presa e deportada para Angola. Ele tentou encontrar sua mãe, mas não obteve sucesso. Até hoje não sabemos o que realmente aconteceu a Luíza Mahin.

Adelina, a charuteira da abolição

Adelina nasceu em 1859, em São Luís do Maranhão. Era filha de Josepha Tereza da Silva, que era escrava de João Francisco da Luz, pai de Adelina. O pai prometeu liberdade à filha quando ela completasse 17 anos, mas a promessa não foi cumprida.

Por volta de 1875, João da Luz passou a fabricar charutos e Adelina os vendia pela cidade. Ela se destacou como vendedora conquistando clientes do Liceu Maranhense, além de pessoas célebres da época, fato que fez com que ela ficasse conhecida como Adelina, a charuteira.

Mas a venda de charutos trazia outras possibilidades à Adelina e ao seu povo. Vendendo charutos pela cidade, Adelina perambulava pelas ruas de São Luís, trazendo conhecimentos importantes à luta abolicionista. No Largo do Carmo, por exemplo, eram realizados muitos comícios e palestras a favor da abolição.

Vender charutos fez com que Adelina formasse uma rede de contatos, circulando pela cidade sem levantar grandes suspeitas. Assim, Adelina se tornou uma mulher atuante e importante na libertação dos escravizados, contribuindo inclusive à uma associação conhecida como Clube dos Mortos, que atuava na fuga de mulheres e homens negros.

Em 1876, Adelina conquistou sua alforria. Não sabemos a data de sua morte e sua história ainda é pouco conhecida entre os brasileiros, mas ela empenhou um papel importante na luta pela abolição da escravatura.

Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira

Maria Firmino dos Reis foi uma mulher negra que se tornou professora e escritora. Assim como Adelina, Maria Firmina dos Reis também é maranhense de São Luiz. Ela nasceu em 1822, filha de Leonor Felippa dos Reis com João Pedro Esteves, um homem de posses para quem a mãe trabalhou. Não consta o nome paterno em sua certidão de batismo.

Maria Firmina ficou órfã aos 5 anos. Por esse motivo, a menina precisou ir viver com sua tia materna, tendo acesso à uma boa educação, algo incomum para uma mulher negra na época. Úrsula é um romance abolicionista protagonizado por personagens escravizados, relatando as crueldades que sofriam e o cotidiano árduo que viviam.

Maria Firmina dos Reis se posicionava de maneira firme contra a escravização e suas obras acentuam o ponto de vista dos negros, o que não acontecia nos romances daquele tempo. Ela também lutava pela educação gratuita e foi fundadora de uma das primeiras escolas mistas do Brasil.

Apesar de toda sua contribuição literária, a obra de Maria Firmina dos Reis ficou esquecida por muito tempo – afinal, a sociedade elitista não se interessava em ler as crueldades que decorriam da escravização. Só em 1962, quando um historiador encontrou a obra Úrsula, Maria Firmina dos Reis voltou a ganhar destaque. Maria Firmina faleceu aos 92 anos.

Anastácia, a “santa popular” brasileira

Em meados de 1740, chegou ao Brasil o navio negreiro Madalena, que trazia 112 pessoas escravizadas no Congo. Delminda, uma das mulheres aprisionadas, foi vendida e estuprada, dando a luz à Anastácia, uma menina negra de olhos azuis. A beleza de Anastácia chamava a atenção, despertando o interesse de senhores de escravos.

Mas Anastácia não os agradava porque se recusava a deitar com eles. A garota de temperamento forte costumava se opor às opressões sofridas e para silenciá-la, colocaram em Anastácia uma máscara de ferro que ela usou por toda a vida. A máscara, chamada de Máscara de Flandres, era colocada nos escravos para impedir que eles ingerissem terra, já que essa era uma das formas que os escravos achavam para dar fim à vida de sofrimento.

A resistência de Anastácia diante da violência sofrida incentivou a resistência de outras pessoas escravizadas. Além disso, Anastácia era curandeira e ajudava os doentes com suas mãos milagrosas. Ela chegou inclusive a salvar a vida do filho de um fazendeiro que a estuprou.

Com os constantes estupros e espancamentos que sofreu, Anastácia não viveu muito tempo. Seus restos mortais foram sepultados na Igreja do Rosário, mas sumiram após um incêndio.

A crença popular na santidade de Anastácia já havia, mas aumentou ainda mais após o incêndio. Hoje, diversas entidades solicitam a beatificação de Anastácia ao Papa. O “Consagrado à Escrava Anastácia” é celebrado no dia 12 de maio, a fim de solicitar pedidos de cura à “santa popular” brasileira.

Maria Tomásia Figueira Lima nasceu em 1826 em uma pequena cidade do Ceará. Mulher branca de família influente, Maria Tomásia se casa com o abolicionista Francisco de Paula de Oliveira Lima e se muda para Fortaleza. Na capital cearense, ela se torna uma das maiores articuladoras do movimento abolicionista cearense.

Foi co-fundadora da Sociedade das Cearenses Libertadoras, uma entidade atuante nas causas abolicionistas da época, e também a primeira presidente da associação. Logo no final da primeira reunião da Sociedade, as 22 mulheres que faziam parte dela – e que também eram de famílias influentes – conseguiram assinar 12 cartas de alforria e posteriormente, convenceram senhores de engenho a assinarem mais 72.

Os esforços da Sociedade das Cearenses Libertadoras foram relevantes para que o Ceará decretasse a libertação dos escravizados antes da Lei Áurea. A Lei Áurea foi assinada em 13 de maio de 1888, mas no Ceará a libertação foi em 25 de março de 1884.

Muitas outras mulheres se dedicaram ao movimento abolicionista, como: Nísia Floresta, com a força de sua voz a favor da abolição; Tereza de Benguela, ou “Rainha Tereza”, líder do Quilombo do Quariterê, que abrigava mais de cem pessoas entre negros e indígenas; Acotirene, conselheira e grande matriarca no Quilombo dos Palmares, entre tantas outras. O que sabemos é que seus nomes devem ser sempre lembrados, e suas histórias resgatadas.Publicado originalmente no site Mulheres de Luta

Fonte: O Vermelho