EM UBATUBA ALDEIA RENASCER DÁ LIÇÃO DE GESTÃO EDUCACIONAL E VALORIZAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA

Foto: Vale Popular/Prefeitura Municipal de Ubatuba

Início de um novo governo é sempre complicado as mudanças dos entes administrativos costumam atrasar a continuidade de projetos. Se para o dito “cidadão comum” essa conturbada e atrapalhada ascensão ao poder do Pres Bolsonaro já está trazendo inseguranças e incertezas imagina para as minorias?

Vou aprimorar a minha pergunta: Bolsonaro a ida da pasta da FUNAI para a Dona Damares foi para enfraquecer a luta do Povo Indígena? Se foi, o tiro saiu pela culatra. Vimos no período de 24 a 26 de abril, em Braslía-DF, uma manifestação que teve como um dos objetivos fazer com que o governo Federal recuasse e devolvesse a pasta Indígena de volta para o Ministério da Justiça. O que isso representa? Representa a união e a força dos povos indígenas em nosso país.

Quem acha que as minorias vão permanecer caladas estão redondamente enganados, os movimentos vão continuar a fazer o atual governo recuar e, a cada recuo, nós nos fortalecemos. Quem acredita que a luta está longe dos nossos quintais está redondamente enganado. Nós, cidadãos do glorioso Vale do Paraíba, estamos vendo os movimentos dos trabalhadores contra a Reforma da Previdência e nos próximos parágrafos vou apresentar outra grande luta de verdadeiros heróis de nossa região.

Em 1997, índios das etnias Guarani e Tupi-guarani, ocuparam no município de Ubatuba-SP, uma área que fica aos pés da Serra do Mar, que foi por muitos anos degradada e explorada sem nenhum controle dos órgãos Municipais, Estaduais e Federais. Logicamente que após minerarem e devastarem uma vasta área os responsáveis por essas empresas simplesmente abandonaram a área totalmente devastada.

Foi então que índios remanescentes das tribos Guarani e Tupi-guarani se juntaram e montaram um assentamento na região devastada. A ligação com a terra e a cultura milenar de subsistência em parceria com os elementos naturais logo trouxeram resultados incríveis, áreas que antes eram apenas vazios começaram a receber mudas de plantas nativas. O tempo foi passando e hoje 22 anos depois há pouquíssimas indicações de que aquela área um dia havia sido desmatada.

Aliando técnicas de plantio com a necessidade arrecadar recursos para a sua sobrevivência fizeram com que os indígenas focassem seus esforços em plantas nativas com grande aceitação no mercado local. Qual foi então a resposta para essa questão da subsistência? O plantio e exploração de tipos de palmito. O palmito é muito apreciado e tem um valor agregado adequado para que as tribos consigam cumprir com seus programas e aumentar a área de preservação.

Outra surpresa muito agradável para mim, que sou um entusiasta do café, foi descobrir que na área reflorestada há uma pequena produção de Café, isso mesmo, as tribos possuem uma pequena produção de sementes de café orgânico que são vendidos aqui na região do Vale do Paraíba. Eles não apenas preservam o meio ambiente como também o fazem de forma autossuficiente não há nenhum recurso proveniente de órgãos públicos, ONGs ou qualquer outra entidade.

E não para por aí, em parceria com a FUNAI as lideranças estão desenvolvendo trabalhos na área da piscicultura em um antigo buraco criado pela empresa mineradora. A área ao redor do tanque já conta com uma pequena produção de abacaxi e, agora, deverá receber algumas espécies de peixes que melhorará o cardápio das tribos e que possivelmente, daqui alguns anos, será mais uma fonte de renda.

As parcerias não param, a comunidade Renascer que conta com 55 crianças conseguiu recursos do governo do estado para construir uma escola dentro da comunidade, o mais incrível disso tudo é que a Diretora e o Coordenador Pedagógico foram criados dentro da comunidade, fizeram faculdade em instituições de ensino públicas e hoje tocam o ensino das novas gerações.

A escola alfabetiza os pequenos em Tupi-guarani e em Português, essa iniciativa preserva as tradições culturais dos nossos antepassados e ainda prepara as novas gerações para os desafios da nossa sociedade.

Mas nem tudo são louros, há alguns desafios que a turma de educadores está manejando de forma brilhante, uma delas é que não há nenhum material fornecido pelo MEC que aborde a alfabetização e a cultura dos nossos índios, o material utilizado na escola é desenvolvido por eles mesmos. Será que essa agenda não deveria ser desenvolvida por nosso Min da Educação Abraham Weintraub?

As conquistas são muitas os planos também, cabe a nós cidadãos do Vale do Paraíba e Litoral Norte defendermos o excelente trabalho que esse pessoal anda fazendo. A batalha que eles estão enfrentando dia a dia para conquistarem a demarcação da terra não é só de interesse dos que moram lá, é de interesse de toda a nossa sociedade. Que o nosso meio ambiente seja preservado e que as nossas raízes sejam tão valorizadas quanto as tradições trazidas pelos colonizadores Europeus e pelos Escravos Africanos.

Vale Popular