61,7% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro sabia do esquema de venda irregular das joias sauditas e 51,4% o veem como responsável pela negociação escusa.
Os sucessivos escândalos que envolvem Jair Bolsonaro (PL) têm abalado seus aliados. A face mais visível está no Congresso Nacional, onde partidos que apoiaram a reeleição do ex-presidente migram gradualmente para a base da gestão Lula (PT). Nesta semana, ao que tudo indica, PP e Republicanos devem ser contemplados na reforma ministerial, consolidando a adesão de mais dois partidos ao governo.
Mas as defecções no bolsonarismo vão além desses ex-aliados. Se os atos golpistas de 8 de janeiro já haviam chamuscado de leve a popularidade de Bolsonaro, tudo piorou com o caso das joias sauditas e as revelações do hacker Walter Delgatti.
A razão é simples. Para muitos apoiadores de Jair Bolsonaro – sobretudo aqueles que acamparam em frente a unidades do Exército desde o fim das eleições 2022 –, uma intervenção militar seria legítima, respaldada na Constituição. De resto, achavam que um golpe era o único caminho possível para “salvar o Brasil” do PT, da esquerda, dos comunistas, etc.
A tese é furada, porque, conforme deixa claro nossa Carta Magna, atentar contra o Estado Democrático de Direito e suas instituições é crime. Não à toa, mais de mil envolvidos nos ataques de 8 de janeiro se tornaram réus e devem ser condenados.
O problema dos novos escândalos, em especial o caso das joias, é a falta de (digamos assim) uma causa maior que faça sentido para esses apoiadores mais ideológicos, que abraçaram bandeiras da extrema-direita. A vaquinha pró-Bolsonaro – que arrecadou R$ 17 milhões via Pix para, supostamente, pagar dívidas – já cheirava suspeita. Pelo que sabe, as dívidas continuam lá.
Pior: qual seria a motivação de Bolsonaro em envolver até um general do Exército para desviar e traficar joias que pertencem ao acervo da União? Como fazer essa história parar de pé sem fake news e com versões menos conflitantes?
À falta de justificativas mais coerentes – que, de resto, não existem, pois é um caso clássico de formação de quadrilha, apropriação indébita e corrupção –, a base bolsonarista encolhe a cada novo escândalo. Mesmo as denúncias de Delgatti à Polícia Federal e à CPMI do Golpe agravam a situação, ao mostrarem que, no fundo, Bolsonaro não tinha uma única prova sequer de que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas e, por isso, tramou uma encenação.
O efeito desses revezes no apoio ao ex-presidente é visível. Conforme pesquisa do instituto Opinião, encomendada pelo site Congresso em Foco, 61,7% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro sabia do esquema de venda irregular das joias sauditas e 51,4% o veem como responsável pela negociação escusa. Mesmo entre eleitores do ex-presidente, 25% acham que ele tinha conhecimento da tramoia e 11% já afirmam que se arrependeram do voto.
Como Bolsonaro já foi condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e está inelegível por oito anos, é natural que seu capital político se desidrate em alguma medida. Mas o avanço das investigações – que pode (e deve) levá-lo à cadeia – há de desgastar cada vez mais esse capital e reduzir o núcleo mais fiel de sustentação ao bolsonarismo.
Levantamento anterior feito pela consultoria Bites para o jornal O Globo já havia apontado uma sensível queda nas médias de menções (positivas ou negativas) a Bolsonaro no Twitter. Para o futuro, os cenários não são dos melhores.
“Em muitos lugares onde o apoio a Bolsonaro já não era tão maciço, o presidente vai se tornando uma figura tóxica”, registra Ricardo Corrêa, colunista do Estadão. “Isso coloca muitos políticos, sobretudo na centro-direita, em um dilema: abrir mão de um apoio que daria tanto tempo de televisão por meio do PL e que neutralizaria o surgimento de um concorrente à direita que poderia esmagá-lo em meio à polarização ou suportar o impacto negativo de aparecer ao lado de um multi-investigado que, em 2024, pode estar bem mais fraco do que hoje?”
Fonte: O Vermelho