É esperado que o ministro se demita, conforme ele próprio informou ao governo nesta quinta, ao saber da trama bolsonarista para rifar Valeixo.
O presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que foi indicado ao posto pelo ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública). A demissão foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (24).
Com a confirmação da saída de Valeixo – que é abominado pela família Bolsonaro –, Moro anunciou que fará um pronunciamento às 11h desta sexta no Ministério da Justiça. É esperado que o ministro se demita, conforme ele próprio informou ao governo nesta quinta, ao saber da trama bolsonarista para rifar Valeixo.
Segundo o colunista Chico Alves, do UOL, o descontentamento maior do presidente com a Polícia Federal está ligado “às investigações que fustigam o filho 03, o deputado Eduardo Bolsonaro (DEM-SP)”. O parlamentar estaria especialmente preocupado com a CPMI das fake news, a ponto de ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal para tentar impedir sua prorrogação da CPMI.
“Esse gesto faz a gente supor que o envolvimento de Eduardo com ilegalidades é bem pior do que imaginávamos”, afirma o deputado Junior Bozella (PSL-SP), integrante da comissão. Um dos pivôs dessa apreensão é Eduardo Guimarães, xará lotado no gabinete do 03, responsável pela página “Bolsofeios”, uma das principais propagadoras de fake news da internet.
O site foi criado a partir de um IP de dentro da Câmara dos Deputados, e o e-mail vinculado à página é o correio eletrônico funcional de Guimarães, secretário parlamentar de Eduardo Bolsonaro. Assim que foi exposta pela deputada Joice Hasselmann, a página foi tirada do ar, mas seu criador continua no radar da polícia.
Guimarães é velho conhecido da família presidencial: foi responsável pela atualização das informações da campanha do então candidato Jair Bolsonaro nas redes sociais. Hoje, é um dos nomes investigados também no inquérito aberto pelo STF para elucidar os ataques à reputação de seus ministros e de integrantes do Congresso. Nessa apuração, a Polícia Federal aproveitou informações levantadas na CPMI das Fake News.
Alguns personagens dessas investigações se repetem agora no inquérito aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, para identificar os responsáveis pelo protesto realizado no domingo, em frente do Quartel General do Exército, em Brasília, que pediu o fechamento do Congresso e do Supremo. Aras quer usar a Lei de Segurança Nacional para punir os organizadores da manifestação, os empresários que a financiaram e os deputados que ajudaram a divulgá-la.
Diante disso, o filho presidencial 03 deu outra demonstração de temor. Assinou nota conjunta divulgada ontem por 25 deputados para tentar se eximir de responsabilidade pelas mensagens antidemocráticas. No texto, Eduardo Bolsonaro e mais 24 colegas da Câmara negam ter “apoiado ou incentivado atos desfavoráveis ao parlamento, ao STF ou qualquer outra instituição”. Claramente, trata-se de uma defesa prévia destinada à investigação aberta pelo Supremo, a pedido da PGR.
Essas três apurações resvalam (para dizer o mínimo) em Eduardo Bolsonaro. E deverão ter desfecho em breve. Carlos Bolsonaro, por seu envolvimento com o chamado “gabinete do ódio”, e Flávio Bolsonaro, pelo caso Queiroz, também estão na mira da PF. Nada deixa o presidente mais intranquilo que ver seus filhos ameaçados.
A exoneração
Moro foi alertado por aliados no fim da noite passada de que a saída de Valeixo, escolhido por ele para comandar a PF, poderia ser oficializada no Diário Oficial desta madrugada, enquanto ainda negocia com o Palácio do Planalto sua permanência como ministro. De acordo com a Folha de S.Paulo, Moro pediu demissão a Bolsonaro na manhã desta quinta (23) quando foi informado pelo presidente da decisão de trocar Valeixo.
O ministro avisou o presidente que não ficaria no governo com a saída do diretor-geral. Bolsonaro então escalou ministros militares para convencer o ex-juiz da Lava Jato a recuar. A exoneração foi publicada como “a pedido” de Valdeixo no Diário Oficial, com as assinaturas eletrônicas de Bolsonaro e Moro – mas o ministro não assinou a medida formalmente nem foi avisado oficialmente pelo Planalto de sua publicação.
O nome de Moro foi incluído no ato de exoneração pelo fato de o diretor da PF ser subordinado a ele. É uma formalidade do Planalto. Além disso, ao contrário do que informa a medida publicada, Valeixo não teria “pedido” sua exoneração ao Planalto. Não há substituto no comando da polícia, por ora, nomeado.
Fonte: O Vermelho