Bolsonaro tem 52% de rejeição e apenas 24% de apoio, aponta pesquisa

Nem mesmo a liberação do novo auxílio emergencial para 45 milhões de brasileiros melhorou a popularidade do governo

A popularidade do presidente Jair Bolsonaro continua em baixa – e nem mesmo a liberação, em abril, do novo auxílio emergencial para 45 milhões de beneficiários ajudou o governo a recuperar apoio. É o que aponta a mais nova pesquisa Exame/Ideia, divulgada nesta sexta-feira (7). Segundo o levantamento, 52% dos brasileiros rejeitam hoje a gestão bolsonarista, ao passo que apenas 24% a aprovam. Outros 24% nem aprovam nem desaprovam.

Diferentemente de 2020 – quando a concessão inicial do auxílio (na época, de R$ 600) turbinou a aprovação a Bolsonaro –, o movimento não se repetiu neste ano. Uma das poucas exceções é a região Norte do País, onde o presidente agora é aprovado por 36%). Segundo Maurício Moura, fundador do instituto de pesquisa Ideia, trata-se de “um leve aumento em função do auxílio emergencial”.

Porém, os números da rejeição ao governo sobressaem. Moura destaca que, entre os que mais desaprovam a gestão Bolsonaro, estão 58% dos que têm ensino superior e 56% das pessoas das classes A e B. No Sudeste, a desaprovação chega a 49%. “Isso é o efeito do ritmo de vacinação, que está muito lento”, diz.

A crise econômica – um desdobramento direto do combate negligente do governo à pandemia – também impacta a avaliação de Bolsonaro. De acordo com a pesquisa, 68% dos brasileiros tiveram perda de renda nas últimas semanas, em meio à piora nos números de casos e de mortes por covid-19. Entre os que disseram que receberam esta nova rodada do auxílio emergencial, 71% afirmaram que o dinheiro foi usado para comprar itens de alimentação.

“Esses números corroboram com a importância desse auxílio para manter as pessoas em casa, com o mínimo de condições de sobrevivência. Há uma grande expectativa de que o auxílio só termine em dezembro”, diz Moura, que pondera: o valor reduzido do novo auxílio e sua breve vigência dificultam ainda mais a vida de Bolsonaro. “Somente 18% acham que o auxílio terminará em julho, como é previsto pelo governo. Então, tem um potencial de perda de popularidade se as expectativas não se concretizarem.”

Outro fato que deve atingir a popularidade bolsonarista é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, instalada em 27 de abril no Senado para investigar falhas e omissões do governo na gestão da pandemia. Na última terça-feira (4), começaram os depoimentos dos ex-ministros da Saúde – o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, também foi ouvido. A investigação é apoiada por nada menos que 59% dos brasileiros.

Como resultado dessa CPI, 45% acreditam que o governo federal vai mudar a abordagem em relação à pandemia. Para 41%, a comissão pode ajudar a aumentar o ritmo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Segundo o site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, o Brasil tem uma taxa de 22,49 doses aplicadas a cada 100 habitantes. O valor é inferior a países como Estados Unidos (74,62), França (34,34), e até mesmo o vizinho Chile (79,16).

“As pessoas acreditam que a CPI vai alcançar três objetivos: encontrar culpados, gerar mais vacina ou aumentar o ritmo de vacinação – e também garantir mais auxílio de renda durante o período da pandemia. O ritmo de vacinação é uma variável crítica que reflete diretamente na popularidade presidencial”, explica Maurício Moura.

A despeito dessas tendências, a visibilidade da CPI da Covid ainda pode crescer, sobretudo entre as camadas mais pobres da população, impondo novos reveses para o bolsonarismo. “A CPI é desconhecida por um terço dos brasileiros. Conforme sobem os patamares de renda e de escolaridade, aumenta o grau de conhecimento”, afirma Moura. “Isso dá uma demonstração que grande parte do País ainda não está acompanhando de maneira mais profunda ou em tempo real os andamentos da investigação.”

A pesquisa questionou os entrevistados sobre os depoimentos mais esperados na CPI. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta foi o mais aguardado (51%), seguido dos governadores (49%). Primeiro nome a falar aos senadores, Mandetta afirmou que discordava de Bolsonaro na condução da pandemia e disse que alertou o presidente, em carta, sobre a possibilidade de colapso no sistema de saúde.

A população também tem interesse em ouvir e o ex-ministro Eduardo Pazuello (43%). Na quarta-feira (5), ele cancelou seu depoimento à CPI, alegando ter mantido contado com pessoas diagnosticadas com covid-19. Um novo depoimento está marcado para o dia 19 de maio. A pesquisa Exame/Ideia ouviu 1.230 pessoas nos dias 4 e 5 de maio. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Fonte: O Vermelho