Completa-se, neste 1º de janeiro, um ano do pior governo que a República brasileira já teve – o governo do ex-capitão Jair Bolsonaro.
Não que o ocupante direitista do Palácio do Planalto seja incompetente – esta é uma acusação que muita gente faz, supondo-se de esquerda que, por isso, deva desqualificar o atual governante do país. Não – esta é uma saída fácil!
Ao contrário daqueles que atribuem a ele essa chamada incompetência, os malefícios que resultam de sua ação governamental cumprem exatamente o papel a que se comprometeu durante a campanha eleitoral de 2018: põem em prática o que prometeu e mesmo o que não, mas foram atribuídas ao candidato na campanha de 2018.
Desse ponto de vista, embora as medidas de seu governo sejam malévolas e nefastas, o presidente tem tido a competência de pôr em prática o que esperavam – e ainda esperam dele – seus eleitores, da direita, evangélicos fundamentalistas e a enorme massa daqueles que, a pretexto de um mal compreendido “antipetismo”, o escolheram para o mais alto cargo da República.
Bolsonaro governa para os muito ricos – as cerca de 20 mil famílias que, segundo o professor Marcio Pochmann, da Unicamp, dominam, controlam e se beneficiam da riqueza brasileira. Governa subordinado aos interesses do imperialismo dos EUA. Além de envergonhar o País e enxovalhar a soberania nacional, destrói parcerias do Brasil no exterior, com profundas ameaças ao comércio externo do País. Governa de costas, e de forma hostil, aos milhões de desempregados (cujo total de 13,3 milhões mal foi arranhado pelos 900 mil empregos precários alardeados pela direita) que há no país, aprofundando os ataques aos direitos sociais e trabalhistas, avançando a tentativas de destruir os sindicatos, e mesmo investindo contra a regulamentação de profissões.
Imaginava-se que o governo do usurpador Michel Temer, nascido do golpe que em 2016 tirou a presidenta legítima Dilma Rousseff do governo, teria sido o pior da República. Mas ele foi suplantado pelo de seu sucessor, Jair Bolsonaro, que manteve e aprofundou as medidas insanas, antidemocráticas, antinacionais e antipopulares cuja imposição foi iniciada sob Temer.
É o pior governo da história da República – e se iguala talvez aos piores momentos que o país viveu sob Império –, como a mudança imposta pela tarifa Silva Ferraz, em 1860 – que talvez seja o sonho da direita neoliberal e financeira: ela destruiu a indústria brasileira que nascia sob a ação de Mauá. Aquela lei tarifária eliminou taxas de importação de ferragens e outros objetos (como canos para o encanamento de água) e permitiu a importação de navios sem o pagamento de nenhuma tarifa. Provocou, assim, a destruição das industrias e dos estaleiros iniciados por Mauá.
O Brasil volta, sob Bolsonaro, a viver semelhante situação de hegemonia liberal, na qual, aprofundado pela dupla Bolsonaro-Guedes, o liberalismo perde o sufixo “neo” que alguns tentaram colocar nele, e se apresenta com a mesma crueza, desumanidade e aversão ao progresso social que teve no passado, antes de 1930 e mesmo da República. Como sempre pretenderam os liberais e a direita, parece próxima a volta do Estado que seja apenas repressor (polícias, forças armadas e tribunais), arrecadador (aparato fiscal) e devedor aos muito ricos (através do mecanismo da dívida pública que mantém o Estado refém dos donos do dinheiro).
Um Estado onde não existem direitos sociais e a democracia seja escassa, onde prevaleça a ideia hobesiana do “homem lobo do homem” – do exacerbado individualismo burguês de cada um contra todos e o poder do dinheiro pairando sobre todos como o deus soberano que rege e inferniza as relações humanas.
Esta reflexão surge quando Bolsonaro completa um ano de péssimos serviços ao País, aos brasileiros, aos trabalhadores, à democracia. E que exige de cada um de nós – democratas, progressistas, socialistas e demais que defendem o progresso social – o mais intenso engajamento na luta contra o autoritarismo, pelo restabelecimento da democracia e o respeito aos direitos de todos.
Fonte: O Vermelho