BRASIL PERDE CREDIBILIDADE APÓS ALINHAMENTO COM EUA, DIZ ECONOMISTA

A aproximação do governo de Jair Bolsonaro (PSL) com a Casa Branca, comandada por Donald Trump, é um entrave para que o Brasil retome sua posição de protagonista no cenário internacional. Essa é a interpretação de Paulo Nogueira Batista Júnior, ex-vice-presidente do Banco dos Brics [Novo Banco de Desenvolvimento].

O economista participa, nesta segunda-feira (11), da primeira mesa do “Brics dos Povos”, evento organizado por movimentos populares do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, que ocorre na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

“Na minha opinião, foi mal aproveitada a presidência brasileira nos Brics [durante 2019]. Foi secundarizada pelo governo. Então, essa reunião de movimentos sociais aqui em Brasília é uma forma de compensar o perfil baixo que o Brasil tem assumido nos governos Temer e Bolsonaro”, avalia.

Segundo Batista Júnior, os Brics nasceram como um projeto anti-hegemônico, mas nunca usaram uma linguagem de confrontação com o Ocidente. Nos primeiros anos, o objetivo era, basicamente, ganhar espaço no Fundo Monetário Internacional (FMI). Como houve muita reação por parte das grandes potências, a partir de 2012, os cinco países começaram a investir na criação de suas próprias instituições e fundos monetários – processo que chega ao auge em 2014, durante a Cúpula dos Brics em que Dilma Rousseff (PT) foi a anfitriã.

O cerco internacional à Rússia, o golpe no Brasil, a crise econômica e política na África do Sul e a deterioração das relações entre China e Índia prejudicaram o avanço daquele processo, que precisa ser retomado. “O Brasil, que era um motor dos Brics, se tornou um participante relativamente passivo, com pouca iniciativa, poucas ideias. Isso ocorre, de fato, no governo atual, que mostra um alinhamento excessivo, às vezes vergonhoso com os EUA, e isso prejudica a credibilidade brasileira”, lamenta.

América Latina

Perguntado sobre a efervescência política na América Latina nos últimos meses, o economista acredita que vivemos “uma instabilidade que aponta para mudanças” – com a eleição de Alberto Fernández, na Argentina; os protestos no Chile e no Equador; e a libertação de Lula no Brasil.

“Infelizmente, tivemos um revés na Bolívia, com um golpe violento contra o presidente Evo Morales. Mas a luta é assim, feita de vitórias e reveses. Eu diria que, apesar disso, a tendência geral da América Latina é no sentido positivo, no passado recente. Positivo no sentido de recuperar a autonomia, de recuperar governos voltados para a inserção social e a distribuição de renda”, analisa.

Fonte: O Vermelho