A política de desaquecer a economia e gerar desemprego para conter a inflação é chamada de curva de Philips e, essencialmente, no mundo inteiro, ela não é mais válida.
A implementação da chamada “independência do Banco Central” em 2021 tem sido considerada uma aberração que atenta contra a democracia brasileira. Essa política é aplaudida por economistas bajuladores de Wall Street e pela grande mídia. Como pode a democracia brasileira eleger um projeto político e este ser inviabilizado pela autonomia do Banco Central? Como um governo pode implementar sua política econômica sem poder guiar as taxas de juros, do câmbio, das metas de inflação, etc.? Não há projeto nacional de desenvolvimento que se sustente com a maior taxa de juros do planeta Terra. Mesmo com o aumento do investimento público, sem diminuir as taxas de juros (as mais atrativas para os especuladores de todas as matizes globais), não há crescimento sustentável.
O presidente Lula tem sido certeiro em criticar as escandalosas taxas de juros. Para entendermos com profundidade o quão danosa é essa política de juros altos para o povo brasileiro, devemos partir das premissas daqueles que a defendem.
Campos Neto, presidente do Banco Central, defende essa política de juros altos para desacelerar a economia, aumentando o desemprego com a retração dos setores produtivos e reduzindo o consumo. Dessa forma, isso poderia fazer uma barreira para a escalada da inflação.
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A política de desaquecer a economia e gerar desemprego para conter a inflação é chamada de curva de Philips e, essencialmente, no mundo inteiro, ela não é mais válida. E por que não é válida? Porque a política neoliberal imprimiu a precarização do trabalho, a flexibilização e a quebra dos direitos trabalhistas, jogando um oceano de trabalhadores no universo da informalidade. Por esse motivo, gerar desemprego não combate efetivamente o aumento da inflação.
Essa tese poderia ter alguma sustentação se tivéssemos uma explosão de demanda não suportada pela oferta, o que não é o caso. Como bem analisou o economista André Lara Resende, o que temos hoje no Brasil é um “choque negativo de oferta” fruto de uma desorganização produtiva. Nesse caso, aumentar os juros não ataca o problema central, pelo contrário, estrangula e desorganiza ainda mais a produção.
Derrotar essa política de juros altos é um desafio central para iniciarmos um processo vigoroso de retomada do crescimento. Campos Neto, eleito presidente do Banco Central até 2024, trouxe um prejuízo de 298,5 bilhões de reais à instituição, essencialmente por vender dólar no mercado futuro, enchendo as burras dos especuladores e levando essa dívida para o tesouro da União, ou seja, repassando ao povo a conta dessa política desastrosa. O mesmo Campos Neto que, em uma recente entrevista, exaltou o trabalho infantil ao comentar sobre o sistema PIX. Esse mesmo Campos Neto tem a cara de pau de defender os juros mais altos do planeta, dizendo ser essa uma política pensada para o social.
Todos os países desenvolvidos do planeta possuem juros reais (taxa de juros nominal menos a inflação) negativos, já o Brasil tem mais que o dobro de taxas de juros do segundo colocado. Isso é uma aberração que não se sustenta, a não ser nos interesses escusos de favorecer os monopólios econômicos que desnacionalizam a indústria nacional e os interesses dos especuladores ao redor do mundo.
Manter a atual taxa de juros é entregar um grande negócio para os rentistas que compram a dívida pública, letras do Tesouro Nacional que pagam a inflação mais seis ou sete por cento ao ano, enquanto os brasileiros veem sua produção esmagada e o crédito mais caro, o que inviabiliza a compra da casa própria, o financiamento das empresas nacionais e a possibilidade de aumento do salário, crescimento do emprego e combate à pobreza.
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Pesquisa da Genial Quaest aponta que 76% dos brasileiros apoiam o presidente Lula na defesa da queda dos juros. Cabe a nós entrarmos na luta política para derrotar esse estrangulamento defendido pelo Banco Central, apoiar o presidente Lula na denúncia dessa barbárie e abrir caminhos para uma política econômica razoável, a fim de iniciarmos o processo de retomada do crescimento.
Fonte: O Vermelho