Para Oswaldo Amaral, da Unicamp, com intransigência de Bolsonaro, o governo pode não conseguir governar, e apenas continuar “fazendo espuma nas redes sociais e nas pautas menos relevantes”; leia a reportagem de Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual
Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual – A “nova política” do presidente da República, Jair Bolsonaro, está levando o governo que tomou posse há menos de três meses a uma encruzilhada. No Congresso Nacional, a “mãe de todas as reformas”, a do sistema de Previdência do país, estagnou. Depois do conflito entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e da troca de farpasafiadas do próprio presidente com Maia em torno da reforma, o governo parece sem saída e a situação é de paralisia política.
“O governo se colocou numa armadilha, a de demonizar negociações políticas, o que vem desde a campanha. Num sistema fragmentado como o nosso, a negociação é inevitável, o que não tem nada de errado. Se ele insistir nessa estratégia, o que a gente vai ter é um governo que não vai conseguir entregar absolutamente nada de substantivo”, diz o cientista político Oswaldo Amaral, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Nos últimos dias, Rodrigo Maia não cansou de falar claramente o que pensa. “O governo é um deserto de ideias”, disse por exemplo, após receber ataques do grupo do presidente via redes sociais. “Eu já fiz a minha parte”, respondeu Bolsonaro em nome de sua “nova política”.
“Ele se colocou na armadilha dessa nova política, que na verdade é uma grande bobagem. O que ele quer? Mandar as coisas ao Congresso e que o Legislativo só aprove? Então não precisa de Congresso”, diz o professor da Unicamp.
Enquanto isso, lideranças da oposição tentam aproveitar a fragilidade política e ocupar o espaço. Mas não é só isso. O próprio Centrão, em nota assinada por 11 partidos, se manifestou nesta terça-feira (26) contra o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a aposentadoria rural do texto da reforma previdenciária.
Para Oswaldo Amaral, a posição dos partidos do Centrão indica que o governo está longe de conseguir fazer o que bem entender com a “nova política” de Bolsonaro. “Boa parte desses deputados do Centrão depende de votos de idosos e de pessoas em áreas rurais. Só que o governo não aceita nem mesmo negociar com eles. A reforma da previdência do Lula, por exemplo, contou com negociação, briga interna no partido etc. Mas no caso de Bolsonaro, não há negociação. Então o Centrão já diz que algumas coisas não servem.”
Para ele, embora a briga Maia x Bolsonaro tenha também o caráter de uma disputa local, pela base eleitoral no Rio de Janeiro, isso não é o principal. Maia está sendo pressionado por vários partidos, porque no início do governo ele apareceu como o personagem responsável pelas negociações dos apoios no Congresso, principalmente em relação à PEC da Previdência.
“Para negociar apoio, ele tem que ter o que entregar. Não precisa ser necessariamente distribuir cargo. Mas, por exemplo, negociar com um deputado interessado em fazer avançar uma emenda ou um projeto de lei, o que faz parte do jogo político. Não tem outra saída no sistema político brasileiro. E essa intransigência do governo Bolsonaro pode fazer com que ele tenha muita dificuldade de fazer qualquer coisa de relevante.”
Na opinião do analista, o governo pode não conseguir governar, e apenas continuar “fazendo espuma nas redes sociais e nas pautas menos relevantes”. Como resultado, a sensação generalizada no país é de que o cenário é de paralisia.
Fonte: Brasil 247
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