Para lideranças partidárias, Bolsonaro quer criar uma narrativa para colocar a sociedade contra a estatal e tirar sua responsabilidade sobre a inflação de preços. Lula disse que Bolsonaro poderia resolver o problema do preço da gasolina numa canetada.
Lideranças políticas que participaram do evento de lançamento das Diretrizes do Programa da Chapa Lula-Alckmin, nesta terça (21), em São Paulo, indignaram-se com a possibilidade do Congresso instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras. A proposta feita por Bolsonaro foi tratado por todos como mais um factóide para agitar sua base nas redes sociais e causar a impressão de que ele não tem responsabilidade nenhuma sobre a inflação dos preços.
A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), explicou porque o partido vai negar a assinatura ao pedido de CPI, ao chegar ao evento no Hotel Intercontinental, em São Paulo. Lula não deixou de tocar no assunto e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também criticou o desvio de foco que Bolsonaro quer promover com essa proposta, assim como a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos.
Canetada
O pré-candidato a Presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva, disse que Bolsonaro joga a responsabilidade da sua incapacidade “diuturnamente” em cima dos outros. “Quando Pedro Parente adotou a PPI [Paridade de Preços Internacionais], não levou para o Congresso Nacional, não foi na Conferência da ONU, não foi no Senado. Foi uma decisão do presidente da Petrobras, que a tomou a pretexto de que era preciso salvar a Petrobras”, lembrou ele. Da mesma forma, recordou ele, decidiram privatizar a BR Distribuidora porque “era preciso ter mais competitividade para o preço cair”.
“Bolsonaro poderia, numa canetada, como fez o Pedro Parente, obrigar o presidente da Petrobras a reduzir o preço. Se tivesse qualquer dúvida, poderia reunir o Conselho Nacional de Politica Energética, o conselho da Petrobras e tomar a decisão de que era preciso reduzir os preços em benefício da sociedade brasileira. Mas ele faz muita bravata e mantém o preço alto, para não brigar com os acionistas, que são os que ficam com o lucro que a Petrobras está tendo, que é exorbitante”, explicou.
Para Lula, nada desse “lucro exorbitante” é destinado ao reinvestimento da empresa e para melhorar a vida do povo. Em sua opinião, os acionistas estão recebendo dividendos que demoraram muitos anos para seu governo receber, “Porque a nossa prioridade não eram só os acionistas, era a Petrobras se tornar uma grande empresa, não de petróleo, mas de energia. Eles estão desmontando isso e vão tentar criar todas as confusões possíveis para privatizar a Petrobras, ainda este ano, como fizeram da forma mais vergonhosa possível com a Eletrobras”.
Escândalo
Para Gleisi Hoffmann, o presidente Jair Bolsonaro (PL) quer construir uma narrativa contra a estatal, criando uma cortina de fumaça para sua incapacidade de controlar a inflação dos combustíveis.
“É um escândalo o que está acontecendo. Querer fazer uma CPI para investigar uma política que eles mesmos estão implantando”, disse. Bolsonaro havia trocado a Presidência da estatal, há poucos dias, que renunciou ontem (20) após as pressões.
Troca de comando na Petrobras não resolve problema dos preços dos combustíveis
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou a apoiadores nesta segunda-feira (20) que é favorável a apurar a conduta de dirigentes da empresa petrolífera, mesmo tendo sido ele mesmo o responsável por indicá-los ao cargo. Com a insistência, o Congresso começou a colher assinaturas para a instalação da comissão.
“Eu estou acertando uma CPI na Petrobras. ‘Ah, você que indicou o presidente’. Sim, mas quero CPI, ué, por que não? Investiga o cara, pô. Se não der em nada, tudo bem. Mas os preços da Petrobras são um abuso”, disse Bolsonaro em um canal de apoiadores na internet.
A falta de responsabilidade e contradição do argumento, na opinião da dirigente do PT é uma tentativa de criar uma narrativa na sociedade contra a empresa e tirar sua responsabilidade sobre a inflação dos preços. “A narrativa de que a Petrobras é inimiga da nação, como se a Petrobras fosse um ser autônomo, uma instituição autônoma que não tivesse responsabilidade. O estado brasileiro tem a maioria das ações e é dono da Petrobras”, disse ela.
Petrobras deveria trabalhar com lucro menor em vez de reajustar preços
Gleisi reafirmou o fato da Paridade de Preços Internacionais (PPI), política adotada pela empresa por Pedro Parente, logo após o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, ser uma decisão da direção da empresa que o governo Bolsonaro pode alterar se quiser. “Essa política de paridade internacional foi aprovada pelo conselho de acionistas da Petrobras com proposta do Pedro parente, o presidente da empresa. Por que não muda essa política? Por que [a política de preços] tem que ser dolarizada? Nós nunca tivemos isso. Porque o custo de produção em real não entra na composição de preços?”, indagou a dirigente partidária.
Se Bolsonaro quer saber quantos os acionistas estão ganhando, segundo Gleisi, era só procurar no Portal da Transparência. “Está lá o que eles estão ganhando. Estão ganhando uma baba de dinheiro!”, exclamou.
Na opinião dela, o escândalo de propor uma CPI está em criminalizar a empresa e desconstruí-la para vender. “Aí tem má fé, oportunismo político e, com certeza. possibilidade de muito negocio”, criticou.
Lula precisa rever o esquartejamento da Petrobras
“O PT vai negar assinatura à CPI. Achamos que isso é um escândalo. Hoje já estão querendo vender as ações do governo para não deixar o estado majoritário. É lamentável que a Câmara dos Deputados se preste a isso. No Senado também somos contra e fizemos conversa com os senadores”, garantiu.
Enxugando gelo
“Bolsonaro, como sempre, quer dar uma de desentendido”, avaliou a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, em entrevista ao portal Vermelho. Para ela, esta é uma tática do presidente, sempre fazer de conta que o assunto não tem nada a ver com ele. “É uma palhaçada! Ora, ele que indicou sucessivos presidentes da Petrobras, agora ele próprio está pedindo a CPI. É porque quer se desobrigar, colocar uma cortina de fumaça na responsabilidade que ele tem, que é não enfrentar o principal que é a paridade de preço do mercado internacional”, disse ela.
Para ela, ele vai continuar “enxugando gelo”, fazendo de conta sem enfrentar, realmente. “Não adianta mudar o presidente da Petrobras, tem que mudar a política de preço”. De acordo com Luciana, se a CPI for instalada vai servir apenas ao desgaste da empresa. “Ele procura colocar em cheque esse que é o maior patrimônio do povo ao tentar desconstruir a imagem que a Petrobras tem junto aos brasileiros”, analisou.
O senador Randolfe Rodrigues é menos fatalista em relação à proposta. Para ele, o pedido não deverá prosperar, servindo apenas como cortina de fumaça. “É uma medida para tirar a responsabilidade do Bolsonaro no aumento dos combustíveis, da carestia, da deterioração da vida do povo. Só para tirar o foco como sempre fazem, quando tem uma noticia sobre aumento da gasolina. Não se compromete e joga cortina de fumaça”, disse ao portal Vermelho, ao chegar ao evento da pré-campanha, em São Paulo.
Para ele, é “mais alegoria e adereço do que samba enredo”. Mas ele admite que o objetivo final talvez seja gerar desgaste na estatal para facilitar a privatização. “Ao povo brasileiro interessa saber em que isso vai resolver o problema do preço dos combustíveis. Concretamente, me parece que o objetivo não é resolver esse problema, mas criar cortina de fumaça”, avaliou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está aproveitando a oportunidade criada pelo Executivo para cobrar do governo federal e do Ministério da Economia se envolvam, pedindo que o governo resolva questões infraconstitucionais por meio de medidas provisórias que alterem, por exemplo a Lei das Estatais, e que têm aplicação imediata, em vez de aguardar a tramitação de projetos de lei. O objetivo é evitar PEC, nos assuntos que sejam constitucionais, ou projetos de lei que têm tramitação mais demorada.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por sua vez, estaria defendendo junto aos líderes a proposta de criação de uma conta de estabilização para amortecer impacto de flutuações nos preços dos combustíveis. Uma das fontes de recursos seria justamente o pagamento de dividendos da Petrobras aos acionistas, que seriam “freados”.
Fonte: O Vermelho