O cientista político Antonio Lavareda, responsável pela pesquisa Ipespe, contratada pela XP, aponta a economia como o fator que hoje mais preocupa os brasileiros – o que favorece Lula, diante do fracasso de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.
Por que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera com folga a pesquisa Ipespe, divulgada nesta segunda-feira, em que ele aparece com 42% dos votos, contra 28% de Jair Bolsonaro? A resposta está na economia, segundo apontou o cientista político Antonio Lavareda, em seu perfil no Twitter. Lavareda destacou que a economia está no caminho errado para 67% dos brasileiros, o que comprova a impopularidade do choque neoliberal de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Leia abaixo sua análise completa:
SOBRE A PESQUISA IPESPE DIVULGADA HOJE (03/11)
- OPINIÃO DE QUE A ECONOMIA “ESTÁ NO CAMINHO ERRADO” ULTRAPASSA DOIS TERÇOS DOS BRASILEIROS (67%). No mês passado eram 64%. Os que acham que ela “está na direção certa” recuaram de 27% para 24%. Não preciso repetir que esse ponto – a percepção da economia – é um dos três vértices do triângulo que ao final do primeiro trimestre do ano que vem, a seis meses da votação, apontará o destino do projeto de reeleição do Presidente. O Governo dispõe, de fato, de cinco meses para apresentar resultados no combate à inflação, ao desemprego, e na distribuição do Auxílio Brasil, substituindo, com valor maior (400 reais), o Bolsa Família praticado há dezoito anos. A partir de abril, a máquina pública contará cada vez menos e para conquistar os eleitores ele só disporá, basicamente, da campanha. Necessitará mexer nesse ponteiro antes dela. Campanhas são importantes mas não fazem milagres.
- CONCLUSÕES DA CPI AMEAÇAM CONSOLIDAR A ELEVADA REPROVAÇÃO (57% DE “RUIM OU PÉSSIMA”) À CONDUTA DO GOVERNO NA PANDEMIA. Os que classificam seu desempenho nesse quesito como “ótimo ou bom” são 22%. Números estáveis em relação aos de setembro. Esse será o segundo vértice determinante do desempenho eleitoral do Presidente. A criação pelos senadores de um Observatório específico para acompanhar a tramitação das denúncias “fatiadas” contra ele, seus ministros, e aliados dará sobrevida ao noticiário negativo, embora em menor volume. O avanço da vacinação, a redução expressiva dos óbitos e a consequente volta à “normalidade” devem abrandar o peso desse tema. Mas se equivocará quem acreditar que a pandemia será página virada no debate eleitoral. Se o Governo deixar que a leitura atual se cristalize, e for incapaz de reduzir bastante o saldo negativo das avaliações (-35 pontos), a memória das mais de 610 mil vítimas será uma bola de chumbo amarrada a seus pés.
- AVALIAÇÃO GERAL DO GOVERNO SE MANTÉM ESTÁVEL, COM O “RUIM OU PÉSSIMO” (54%) OSCILANDO UM PONTO ABAIXO. A leitura positiva (“ótimo/bom”) manteve-se no mesmo patamar, 24%. A desaprovação (64%), igual a de setembro, é mais que o dobro da aprovação, que continuou em 30%. Nesse quesito entra o “conjunto da obra” durante o mandato. É o terceiro vértice do triângulo que precisará ser substancialmente alterado para viabilizar a reeleição.
- IMPRENSA CONTINUA SENDO A PRINCIPAL FONTE SOBRE POLÍTICA PARA 75% (TELEVISÃO, 49%; PORTAIS, BLOGS E SITES DE NOTÍCIAS, 19; RÁDIOS, 4%; IMPRESSOS, 3%). As Redes Sociais (Facebook, Instagram, Twitter) vêm em uma distante segunda colocação (19%). WhatsApp, em separado, é referido por 3%. Isso nos ajuda a entender a percepção da sociedade sobre a valência do noticiário relativo ao Governo. Em outubro, 59% disseram que predominaram nos meios de comunicação as notícias “desfavoráveis”, ao passo que apenas 7% afirmaram que elas foram mais “favoráveis”, o restante achando que foram neutras ou não sabendo responder. Essa variável afeta diretamente os números apresentados no tópico anterior.
- ESTABILIDADE NOS CENÁRIOS ELEITORAIS DE PRIMEIRO E SEGUNDO TURNOS, COM LULA EM PRIMEIRO E BOLSONARO EM SEGUNDO LUGAR. Lula oscilou um ponto abaixo, em relação ao mês anterior, nos dois cenários estimulados de primeiro turno (tem agora 41% e 42%). Enquanto Bolsonaro se manteve nos patamares de setembro (com 25% e 28%). Os demais candidatos ou se mantiveram estáveis ou fizeram movimentos de apenas um ponto. Não havendo nenhuma mudança de posição no ranking, no primeiro e no segundo turnos.
- QUANTO AO PRÓXIMO PRESIDENTE, A AGENDA DO ELEITORADO, COERENTE COM O PRIMEIRO VÉRTICE APONTADO ACIMA, ENFATIZA NO AGREGADO OS TEMAS ECONÔMICOS (44%). Nessa categoria estão a inflação (18%), o desemprego,14%, a fome/miséria,(11%) e os salários com 1% de menções. Vindo em segundo lugar a Educação, 27%, e em terceiro a Saúde, 15%. O que, de certa forma, dialoga com o arrefecimento da pandemia e as dificuldades encontradas na volta às aulas presenciais. A expectativa de que o combate à corrupção seja o carro-chefe do próximo Governo atinge apenas 6%. O que não é boa notícia, a princípio, para o possível candidato Sérgio Moro.
- COMO ANDA O ESPAÇO DA TERCEIRA VIA? 55% DOS ELEITORES CITAM UM DOS DOIS LÍDERES NA PERGUNTA ESPONTÂNEA (LULA, 31% e BOLSONARO, 24%). Então, teoricamente, nesse momento há 45% dos eleitores que podem ser mais “disputados” pelos candidatos alternativos, em especial o contingente que rejeita a dupla master. O problema é que o “alistamento” segue desenfreado. Já foram apresentados 10 nomes. Um denominador que inviabiliza o resultado qualquer que seja o numerador disponível. Na verdade, a dificuldade real não é o número de postulantes. Nas últimas primárias democratas, ano passado, nos EUA, foram 29 os concorrentes. Mas eram de um só partido e competiam dentro de um mecanismo do qual só um nome emergiria. Aqui não. Em um contexto partidário fragmentado pelo voto proporcional de lista aberta, tudo dependerá de uma eventual capacidade, extraordinária, de coordenação das legendas e dos pré- candidatos. Aguardemos o que ocorrerá.
Fonte: Brasil 247