O “estudo” feito pela operadora, que usou pacientes como cobaias, foi apoiado por Jair Bolsonaro e pelos filhos Flávio e Eduardo.
O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, deverá comparecer à CPI da Covid na próxima quarta-feira (22). A operadora de saúde é pivô de mais um escândalo envolvendo temas relacionados à pandemia de covid-19 no Brasil. A empresa teria ocultado nove mortes de pacientes que participaram de um “estudo” para testar a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento da doença. Batista Júnior não compareceu à data prevista alegando que não havia sido comunicado em tempo hábil.
Um grupo de 15 médicos que teriam trabalhado na operadora enviaram um dossiê à comissão. Segundo o documento, a Prevent teria sido um “laboratório” usado pelo gabinete paralelo – ligado a Jair Bolsonaro – para comprovar que o tratamento precoce com o chamado “kit covid” era eficiente contra a covid-19. As informações foram reveladas pela GloboNews.
Há informações gravíssimas no documento, que mostra nomes, como do diretor da Prevent, Fernando Oikawa. Em uma mensagem, Oikawa teria feito a seguinte recomendação aos médicos: “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”, de acordo com a reportagem da emissora.
O caso da Prevent Senior é tão grave que a cúpula da CPI, em decorrência dele, estuda prorrogar os trabalhos, previstos para entrar na reta final na próxima semana. O “estudo” feito pela operadora, que usou pacientes como cobaias, foi apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Além da operadora de Saúde, as investigações em torno da Precisa Medicamentos, objeto de operação de busca e apreensão na sexta-feira, também pressionam para a continuidade da comissão por mais algumas sessões.
Cerco à operadora
Na sexta-feira (17), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) realizou diligência na Prevent Senior. O objetivo foi buscar “esclarecimentos a respeito das denúncias sobre cerceamento ao exercício da atividade médica aos prestadores vinculados à rede própria da operadora, e sobre a assinatura de termo de consentimento, pelos beneficiários atendidos na rede própria, para a prescrição do chamado kit covid”, afirmou a agência em nota.
Especialistas consideram a gravidade do caso inédita. É o caso do médico sanitarista Daniel Dourado. “É o maior escândalo médico da história do Brasil. Esse episódio da Prevent Senior tem que ser investigado e o envolvimento com o governo Bolsonaro precisa ser esclarecido. É gravíssimo”, escreveu, no Twitter.
O analista de redes sociais Pedro Barciela, também no Twitter , comentou “Seis vezes em que os Bolsonaros enalteceram o crime cometido pela Prevent Senior e ainda atacaram o SUS por não ”fazer igual’”.
Antes da Prevent, ministro da CGU
Antes do executivo da operadora de saúde, a CPI ouve, na terça-feira (21), o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário. O requerimento de convocação é do governista Eduardo Girão (Podemos-CE). Segundo o senador, Rosário deve falar de investigações sobre desvio de recursos da União para estados e municípios. Mas a ideia do presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), é outra.
“O que ele tem que explicar não é (sic) as operações que ele fez, é a omissão dele em relação ao governo federal. Tem que vir, mas não tem que vir para jogar para a torcida, não. Ele vai jogar aqui é no nosso campo”, avisou. “E Wagner Rosário, que tinha acesso a essas mensagens (sobre negociações de compra de vacinas pelo Ministério da Saúde) desde 27 de outubro de 2020, ele é um prevaricador”, disse Aziz.
Fonte: O Vermelho