Ex-presidenta brasileira, Dilma Rousseff foi a principal atração política da Festa de L’Humanité, em Paris, na noite deste sábado (14); ela falou para uma plateia de europeus, de diversos países, em ato de solidariedade ao Brasil e contra a prisão de Lula.
Ao descer do palco e chegar aos camarins da festa na França, Dilma Rousseff, caminhou direto para o abraço a algumas antigas companheiras de luta dos tempos de resistência à ditadura brasileira. Maria José, perseguida durante os anos 1970, quando teve de deixar o país e tornar-se conhecida como “a última clandestina de Paris” e Solange, ex-militante do movimento estudantil, atualmente ativista dos movimentos sociais brasileiros na França. Entre as suas contemporâneas, a primeira mulher presidenta do Brasil, deposta em 2016 por um golpe de traços fortemente misóginos, mostra que sua força segue intacta.
Dilma conversou brevemente com a reportagem do Portal Vermelho, após falar por duas horas e vinte e um minutos na Ágora Central do festival europeu, na noite deste sábado (14). Ela se mostrou satisfeita com a recepção no evento, promovido pelo Partido Comunista Francês, e disse animada sobre o acolhimento que recebeu do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), durante todo o processo do golpe. “Sou grata ao PCdoB, principalmente às mulheres do partido”, disse, citando parlamentares que batalharam contra o golpe como Jandira Feghali (RJ), Vanessa Graziotin (AM) e a ex-presidentas da União Nacional dos Estudantes (UNE) como Virgínia Barros, Carina Vitral e Marianna Dias.
Sem nenhum sinal de desânimo ou abatimento pela violência institucional e simbólica que sofreu nos últimos anos, Dilma tem viajado ao exterior com frequência, nos últimos meses, para divulgar com todo empenho a situação da prisão política de Lula e os graves retrocessos do governo antidemocrático de Jair Bolsonaro. Na Fête de L’Humanité, ela apresentou algumas das contradições do momento político do país. Relatou a subordinação massiva do atual governo aos interesses financeiros externos e principalmente aos Estados Unidos. “Ninguém respeita um governo que bate continência para outra bandeira”, disse em um dos momentos mais aplaudidos.
Temas que vem ocupando a primeira página do noticiário francês também foram abordados, como as ofensas misóginas do presidente brasileiro à primeira dama francesa e as queimadas nas florestas do Brasil: “ A ideia de nação brasileira é uma ideia intimamente ligada à preservação ambiente e da Amazônia. Só se impede o desflorestamento com ações muito claras que mostram o empenho do governo para proteger uma área que tem tamanho três vezes maior que a área do Reino Unido”, disse. A questão ambiental no Brasil foi um dos principais temas do G7, encontro das principais potências do mundo, realizado há pouco tempo na França.
Dilma lembrou os programas sociais de seu governo e de Lula que foram responsáveis por tirar 36 milhões de brasileiros da miséria, em um processo de transferência de renda inédito no mundo. “O Brasil é um dos países com maior desigualdade no mundo e é o último país a abolir a escravidão”, lembrou. Porém, disse que não basta aumentar salários ou transferir renda para alterar esse cenário. “É necessário garantir aos jovens educação de qualidade. Tenho muito orgulho de que ao final do meu governo, a maioria dos jovens formados na universidade eram os primeiros de suas famílias a terem acesso ao ensino superior”, declarou.
O processo de perseguição ao ex-presidente Lula, com o uso da lawfare e o aparelhamento da operação Lava Jato também foi didaticamente explicado pela ex-presidente. “”Lula está na prisão porque Lula muda a correlação de forças se sair da prisão. O Lula representa a luta pela democracia no Brasil e, ao mesmo tempo, que um outro Brasil e um outro governo é possível”, disse. Pela plateia do Fête de L’Humanité, as camisetas e faixas da campanha Lula Livre se espalhavam entre brasileiros que vivem na França e muitos estrangeiros solidários à causa do ex-presidente, um dos principais presos políticos do mundo.
Após o Fête de L´Humanité, Dilma segue para a Mani Fiesta, festival da esquerda da Bélgica que acontece nos próximos dias 20 e 21 de setembro. Na França, a programação do festival do Partido Comunista termina neste domingo, com uma série de shows no Parc de La Courneuve, ao norte de Paris.
Fonte: O Vermelho