No texto, coordenadores afirmam que tiveram decisões ‘indeferidas’, mesmo com maioria de votos, e que reclamaram da falta de interlocução com a presidência.
Três integrantes da equipe de gestão da Fundação Palmares pediram demissão do órgão na quinta-feira (11) e, em um documento endereçado ao presidente do órgão, Sérgio Camargo, reclamam de “ingerência de forma generalizada” de pessoas de fora do órgão.
Também na carta, divulgada pelo G1, eles alegam que tiveram decisões “indeferidas”, que mesmo com maioria foram voto vencido em decisões da fundação e apontam falta de interlocução com a presidência.
As demissões de Ebnézer, Roberto e Raimundo representam a saída de praticamente todo o colegiado da Fundação Palmares. Eles tinham sido nomeados aos cargos por possuírem perfis mais conservadores.
Segundo a CNN, o estopim da saída dos direitos foram divergências em relação à mudança da sede da Fundação em Brasília. Sérgio Camargo anunciou a transferência para um prédio público no fim de 2021, no entanto, o novo espaço precisa de reformas e o projeto ainda não saiu do papel. Segundo os coordenadores, o projeto – orçado em mais de R$ 700 mil – foi elaborado a toque de caixa e não inclui todas os problemas estruturais que o local apresenta.
No fim de fevereiro, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) questionou a decisão no Tribunal de Contas da União (TCU), apontando infiltrações e falhas estruturais no local a ser ocupado. Segundo a parlamentar, problemas que poderiam prejudicar o acervo da Fundação, que reúne fotografias, documentos históricos e obras de arte relacionadas à história do povo negro.
Conflito interno
A Fundação Palmares é presidida por Sergio Camargo desde novembro de 2019. A nomeação dele gerou uma série de críticas e pedidos de afastamento do cargo negados pelo STJ.
Os três gestores que pediram demissão são: Ebnézer Maurílio Nogueira da Silva, que era diretor do departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro Brasileira; Raimundo Nonato Souza Chaves , que era coordenador-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra; e Roberto Carlos Consentino Braz, que era coordenador-geral de Gestão Interna.
“Tivemos nossas decisões indeferidas ou ignoradas, e muitas vezes presenciamos pessoas que não tinham prerrogativa de voto, por não compor a diretoria, e mesmo assim participavam de reuniões e interferiam nas decisões, causando ingerência de forma generalizada”, afirma a carta.
Os gestores também escreveram que a decisão “extremada” de pedir o desligamento se deu após “inúmeras tentativas de interlocução com a presidência” sobre a gestão da Fundação Palmares. Eles também afirmam que servidores que estão no órgão desde gestões anteriores levam o presidente “ao erro”.
“Coerentes com nossos princípios morais e políticos, tomamos uma difícil decisão de desligamento de nossos cargos por não encontrarmos mais viabilidade de diálogo entre os diretores e o presidente”, afirma a carta.
Em uma rede social, Sergio Camargo afirmou que não haverá mudanças nas “diretrizes” de atuação da fundação e que os substitutos dos três gestores serão anunciados nos próximos dias.
“A Fundação Palmares pertence ao Brasil e é mantida com recursos dos pagadores de impostos. Seu compromisso é com a satisfação do público, não dos gestores. O trabalho continua, sem qualquer alteração nas diretrizes”, afirmou.
Escravidão benéfica
Numa publicação antes de ser nomeado para o cargode presidente, o jornalista classificou o racismo no Brasil como “nutella”, num deboche sobre a gravidade do legado histórico da escravidão no país. “Racismo real existe nos Estados Unidos. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, afirmou.
Ele também postou, em agosto de 2019, que “a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes”. “Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”, completava a publicação.
Sobre o Dia da Consciência Negra, Sérgio Camargo afirmou que o “feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial”. Ele disse que a data “causa incalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo”.
Sérgio publicou uma mensagem numa rede social na qual disse que “sente vergonha e asco da negrada militante”. “Às vezes, [sinto] pena. Se acham revolucionários, mas não passam de escravos da esquerda”, escreveu.
Em 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, Sérgio Camargo publicou artigos depreciativos a Zumbi no site oficial da instituição. Em redes sociais, disse que Zumbi é “herói da esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!”.
Durante sua gestão, personalidades políticas e culturais negras homenageadas e lembradas pela Fundação foram excluídos sob a alegação de que ainda não tinham morrido. Ele chegou a debochar de alguns nomes.
Fonte: O Vermelho