O fundador do site The Intercept foi indiciado pelo mesmo procurador que tentou indiciar o presidente da OAB a pedido de Sergio Moro. Greenwald afirma que não se deixará intimidar.
Embora não seja investigado, o jornalista Glenn Greenwald foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Spoofing por 176 invasões de dispositivo informático e associação criminosa. De acordo com o MPF, o jornalista auxiliou e orientou hackers durante o período das invasões.
Greenwald foi responsável pela revelação das conversas nada republicanas entre procuradores da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça.
O procurador Wellington Oliveira, que denunciou o jornalista, é o mesmo que culpou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, sob a acusação de ter caluniado o ministro Moro.
Em julho, Santa Cruz disse, em entrevista à colunista do jornal Folha de S.Paulo Mônica Bergamo, que o ministro “banca o chefe da quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”.
Em nota à coluna de Mônica Bergamo, Greenwald diz que a denúncia em que é acusado de de envolvimento no hackeamento de contas de Telegram de autoridades como o ministro Moro “é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro”.
“Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalistas. Estou trabalhando agora com novos relatórios e continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Muitos brasileiros corajosos sacrificaram sua liberdade e até sua vida pela democracia brasileira, e sinto a obrigação de continuar esse nobre trabalho”, diz o jornalista.
Repercussão
A líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), diz que o fato representa uma grave ameaça à liberdade de imprensa no país.
“Absurdos na caçada ao jornalista: procurador do MPF ignorou relatório da Polícia Federal que descartava Greenwald como cúmplice das ações de hacker”, diz a deputada.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também considerou um ataque à liberdade de expressão e à imprensa livre. Greenwald não cometeu nenhum crime, apenas fez jornalismo sério, o que derrubou as máscaras dos falsos heróis do lavajatismo e seus comparsas. Nossa solidariedade”, afirmou.
“Essa denúncia do MPF em Brasília não atinge só Greenwald. Agride frontalmente a liberdade de imprensa. Um absurdo a mais nesse enredo de abusos autoritários. Nosso repúdio!”, disse o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) considerou a denúncia uma criminalização do trabalho jornalístico. “Sergio Moro, assim como membros do MPF e setores do judiciário, não aceitam que seus podres tenham sido expostos pela Vaza Jato”, protestou.
A presidenta do PT Nacional, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o Ministério Público usa do poder para se vingar de Glenn Greenwald. “MP abusa do poder para se vingar de Glenn Greenwald, que denunciou crimes da Lava Jato e parcialidade do então juiz Sérgio Moro contra Lula. Querem estado policial, com mais farsas, ilegalidades e arbitrariedades. PT solidário com Glenn, em defesa da liberdade de imprensa”, enfatizou.
Para o futuro líder da Bancada do PT, deputado Enio Verri (PR), a denúncia é mais uma supressão da democracia.
“O MPF denuncia o jornalista Glenn Greenwald por crimes cibernéticos. Porém, Glenn nem sequer indiciado foi e nunca se provou sua ligação com supostos hackers. A denúncia é mais um triste capítulo da supressão da democracia, com o cerceamento da liberdade de imprensa”, lamentou.
“Moro e Bolsonaro usam o MPF para perseguir Glenn Greenwald, o jornalista que está expondo erros da Lava Jato”, denuncia o deputado Henrique Fontana (PT-RS), em sua conta no Twitter.
A deputada Margarida Salomão (PT-MG) se solidariza com o jornalista. “Como era esperado, o lawfare alcançou Glenn Greenwald. Em tempo: procurador do MP que, contrariando a Polícia Federal, decidiu denunciar Glenn fez o mesmo com Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, por suposta calúnia contra Sergio Moro. A Glenn, nosso abraço e apoio”, enfatizou.
Também em sua rede social, a deputada Marília Arraes (PT-PE) afirmou que, contrariando decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, e sem nenhuma investigação ou indiciamento em curso, o MPF denunciou o jornalista Glenn Greenwald pela suposta invasão de celulares de autoridades. “Querem substituir o Estado Democrático pelo Estado Policial”, denunciou.
Denunciados
Além de Greenwald, foram denunciados os seis membros do grupo hacker composto por Walter Delgatti Neto (o Vermelho), Danilo Marques, Luiz Molição e Tiago Elieser, Suelen Priscila e Gustavo Santos.
O Ministério Público pede a condenação dos acusados visto que foram comprovadas 126 interceptações telefônicas, telemáticas ou de informática e 176 invasões de dispositivos informáticos de terceiros, resultando na obtenção de informações sigilosas. Com exceção de Glenn, todos os outros denunciados responderão pelo crime de lavagem de dinheiro.
Fonte: O Vermelho