Renda real em queda, corroída pela inflação, e ausência de investimentos públicos durante o governo Bolsonaro também são entraves a um crescimento robusto em 2022.
O desempenho de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre não chegou a revigorar as expectativas para a economia em 2022, uma vez que como pano de fundo dessa ligeira alta ainda se mantêm negativos componentes importantes para uma trajetória consistente de recuperação. Os entraves a um crescimento mais robusto do PIB, que é a soma das riquezas produzidas no país, começam pela própria política monetária, segundo análise da economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Juliane Furno.
“O primeiro trimestre foi fechado antes do aperto mais substancial na taxa básica de juros. Portanto, para os próximos meses a economia brasileira deverá sentir os efeitos de uma demanda interna ainda mais contraída. No front interno, a manutenção da política de preços da Petrobras e os recentes anúncios de possibilidade de mais choques nas tarifas de energia também podem comprometer as indústrias locais pelo encarecimento de custos e insumos, além da corrosão do poder de compra dos trabalhadores”, ressaltou.
Outro aspecto preocupante, de acordo com Juliane Furno, é que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que é um indicador do investimento na economia brasileira, amargou queda de -3,5%. “Com isso, a taxa de investimento com relação ao PIB chega a níveis dramáticos, perfazendo apenas 18,7% do Produto, bem abaixo do que foi registrado no mesmo período do ano passado, que foi de 19,7%”, apontou.
A economista-chefe do IREE explica que o investimento, ou seja, tudo aquilo que é feito para adicionar capacidade produtiva e produtividade à economia brasileira, está sendo comprometido em um cenário em que o Estado perde capacidade de liderar a retomada do investimento, sobretudo em função do teto de gastos, que limitou as despesas da União por 20 anos.
A prévia do programa do pré-candidato Lula à presidência prevê a revogação do teto de gastos. No documento inicial, que ainda precisa da aprovação dos partidos que apoiam o ex-presidente (PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Rede e Solidariedade), a aliança defende uma nova política fiscal, que fortaleça o planejamento e a articulação entre investimentos públicos e privados, que reconheça a importância do investimento social, dos investimentos em infraestrutura e que esteja vinculada à criação de uma estrutura tributária mais simples e progressiva.
Ainda de acordo com Juliane Furno, o ambiente macroeconômico mais geral também não contribui para a recuperação sustentada da economia. “Juros elevados, renda real em queda corroída por uma inflação acumulada com mais de 2 dígitos e na ausência da liderança dos investimentos públicos, são componentes que ajudam a explicar a retração nesse setor”, descreveu.
Fonte: O Vermelho