Jornal francês estranha a falta de reação dos brasileiros e especula que muitos evitam se manifestar por medo da volta da esquerda ao poder
Artigo de Bruno Meyerfeld publicado no Le Monde apresenta a população brasileira como extremamente passiva diante dos desmandos de Jair Bolsonaro na gestão da pandemia.
“A pergunta que não quer calar: como ele consegue se segurar? Jair Bolsonaro é certamente um homem acostumado às tempestades. Mas enquanto o Brasil, devastado pela variante P1, banido no cenário internacional, tem mais de 400.000 mortos da Covid-19 e afunda cada vez mais na carnificina humanitária, todos se perguntam sobre a surpreendente capacidade de resiliência do líder da extrema direita”, escreveu.
Bruno Meyerfeld aponta as responsabilidades de Bolsonaro pelo morticínio.
“Sua responsabilidade pelo drama em curso é, no entanto, gritante: Jair Bolsonaro negou sucessivamente a epidemia, impediu qualquer medida de contenção, recusou-se a negociar vacinas, atrasou os planos de imunização. Em qualquer outra democracia, é difícil imaginar um líder assim permanecendo no topo do estado. E, no entanto, contra todas as probabilidades, aqui está o presidente ainda firmemente ancorado no poder, desfrutando de popularidade intacta entre 25% a 30% da população e uma sólida maioria no parlamento.”
O autor estranha a falta de reação dos brasileiros:
“Por um ano, nenhuma manifestação em massa veio para questionar seu governo. Ao contrário dos chilenos, argelinos, libaneses, iraquianos ou de Hong Kong, os bravos brasileiros não enfrentaram a Covid-19 para ir às ruas e gritar sua raiva, contentando-se com desfiles de carros pequenos e marchas da maconha. Protestos que parecem muito tímidos, senão insignificantes, em comparação com o colapso vertiginoso do país.”
Ele ainda especula que parte do problema se deve ainda ao temor da volta das esquerda ao poder:
“As principais razões para esta situação são conhecidas: parte inabalável de popularidade entre sua base militante, crise econômica, medo do retorno da esquerda ao poder, acordo político inteligente negociado com parlamentares do centro. Mas isso não explica tudo. Porque a crise da Covid-19 atualizou um dado mais profundo e essencial, permitindo que Jair Bolsonaro permaneça no poder: o relatório da morte no Brasil.”
Por fim, ele fala da imagem do Brasil como País do Carnaval:
“No imaginário, o Brasil é um país festeiro associado ao carnaval, ao samba, ao futebol e à caipirinha, o coquetel nacional. O país sempre exportou, com vontade e com sucesso, a sua imagem de democracia mista, “terra do futuro”, de alegria de viver e de amor fácil. O Brasil, este gigante pacífico “eternamente estendido no seu berço sublime” , como até proclama o Hino Nacional.”
Fonte: Brasil 247