Depois de atos massivos contra o presidente Jair Bolsonaro em 29 de maio, em mais de 200 cidades e dez países, os movimentos sociais se articulam, nesta semana, para decidir a data para mais uma rodada de protestos. Há perspectivas de que uma nova agenda seja costurada até a segunda quinzena de junho.
Nesta terça-feira (1), às 17 horas, a coordenação da Frente Povo Sem Medo – que que engloba diversos movimentos sociais – faz reunião virtual com cerca de 20 lideranças para avaliar o último ato e iniciar a construção do calendário do mês. A expectativa é de um encontro entre as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular (outra aglutinadora de organizações) ainda nesta semana. Ambas integram a Campanha Fora Bolsonaro.
Além do calendário, as organizações ainda devem decidir novas estratégias. A decisão do governo em trazer a Copa América, se mantida, eleva o tom dos próximos atos. O caso já virou alvo de ação no Supremo Tribunal Federal. Também surge a proposta de conectar essas manifestações a greves que estão em curso.
Estão paralisados os trabalhadores da Petrobras Biocombustível, desde 20 de maio em usinas na Bahia e em Minas Gerais e em escritório no Rio de Janeiro. Além disso, seguem sob “estado de greve” os funcionários de subsidiárias da Eletrobras, como Eletronorte, Furnas e Companhia Hidrelétrica de São Francisco. As duas categorias protestam contra as privatizações de seus setores e pedem preservação dos direitos trabalhistas.
Um desafio é o aumento de casos de Covid-19 em eventual terceira onda da pandemia, agravada pela variante indiana. Estudo da Fundação Oswaldo Cruz mostrou em maio que uma nova leva de contaminações será catastrófica, porque o Brasil partirá de um patamar alto mantido no curto período de estabilidade. Para o médico Miguel Nicolelis, o País só vence essa fase com 3 milhões de vacinados por dia e sob a adoção de lockdown. Segundo a organização Our World in Data, só 10,4% dos brasileiros foram totalmente vacinados até agora: 22 milhões de pessoas.
Mesmo que pesquisas tenham minimizado a responsabilidade de grandes protestos para a disseminação da Covid, como nos atos pela morte de George Floyd, preocupações sanitárias levaram organizações a anunciarem que não convocariam atos para 29 de maio. Josué Rocha, coordenador da Povo Sem Medo, admite que não é um momento fácil para se tomar a decisão de ir ou não ir às ruas. Mas a linha defendida pela organização é de que as mobilizações têm que seguir.
A tentativa é dialogar com quem se disponibiliza a ir ao protesto, apesar da exposição ao vírus, mas adotando discurso e prática responsáveis em relação à prevenção. Em São Paulo, por exemplo, houve uso de máscaras e álcool em gel pela imensa maioria dos manifestantes, além de fornecimento de equipamentos de proteção por equipes de saúde.
“A gente respeita quem não se sente à vontade nesse momento e continua convocando coletivamente”, diz Rocha. “Não há uma divergência na política. Há grande unidade sobre a necessidade de mobilização pelo Fora Bolsonaro. O que existe é uma situação delicada que colabora para posições diferentes sobre o momento de estar na rua.”
Fonte: O Vermelho