Centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição apresentaram ontem (18) propostas para se contrapor à política do governo, que segundo eles vai na contramão do necessário para fazer o país voltar ao caminho do crescimento com redução da desigualdade. O foco é o Congresso Nacional: é ali, avaliam, que os projetos têm avançado e continuarão sendo aprovados, se não houver reação na rua e articulação política, com maior quantidade de forças – talvez além da esquerda tradicional.
Alguns detalhes foram divulgados durante evento na sede do Sindicato dos Químicos de São Paulo, com presença de sindicalistas da Argentina e do Chile, além da presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Apresentado pelos principais partidos de oposição no Congresso (PCdoB, PDT, PSB, PSOL e PT), o documento Proposta das Centrais Sindicais para Geração de Empregos lista 15 itens para o chamado Plano Emergencial de Emprego e Renda. Há pontos como reativação do programa Minha Casa Minha Vida, expansão do Bolsa Família, aumento real do salário mínimo, correção da tabela do Imposto de Renda, crédito para a agricultura familiar, apoio ao BNDES e retomada de obras paradas.
As centrais apresentam propostas semelhantes, em plano formalizado hoje (19), em reunião na sede da CUT, defendendo emprego “de qualidade”, proteção social, políticas emergenciais, redução da jornada de trabalho e ampliação do número de parcelas do seguro-desemprego. O desafio é “identificar convergências em relação às propostas”, observou o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.
Conforme os sindicalistas, a presença do Estado é ainda mais importante em momentos de crise, como observou a técnica do Dieese Adriana Marcolino, que fez a apresentação. O texto fala também em controle de preços de produtos da cesta básica e do gás de cozinha, além de redução de tarifas para famílias que tenham desempregados.
Pela Frente Brasil Popular, o líder do MST João Paulo Rodrigues lembrou que a necessidade de “construir um projeto para o país” está em pauta desde as eleições 2018. “Queremos sinalizar para a sociedade que temos uma alternativa de desenvolvimento – temos uma agenda completamente diferente dessa que está aí”, afirmou João Paulo, falando em “Estado, democracia e soberania”.
Ao lado de Alejandra Valenzuela, dirigente da homônima chilena, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que se o Brasil não quiser viver “o mesmo drama” do país vizinho, que há um mês enfrenta protestos de rua, “temos que derrotar o programa do Bolsonaro e do Paulo Guedes (ministro da Economia)”. Segundo ele, em todos os períodos de desenvolvimento que o País viveu, houve impulso do Estado. “Não vamos levar 30 anos para viver o caos, como no Chile. Temos que defender o serviço público, as estatais”, disse Sérgio. No próximo dia 26, haverá encontro do setor público em Brasília para discutir estratégias e um plano de defesa.
“Temos também que derrotar a reforma trabalhista que eles fizeram por medida provisória”, acrescentou o presidente da CUT, citando programa apresentado na semana passada pelo governo. Ele afirmou que se trata de uma “prática antissindical”, que pode ser objeto de denúncia na Organização Internacional do Trabalho (OIT). “O que gera emprego é desenvolvimento”, ressaltou.
Para ele, as centrais precisam conversar não apenas nos locais de trabalho – mas também nos bairros. O dirigente cutista considera que a democracia continua em risco no Brasil. “As ditaduras não foram implementadas da noite para o dia. Não duvidem da capacidade desse povo de fazer maldade.”
Frente ampla
Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, é preciso não apenas “enfrentar os gargalos estruturais” brasileiros, mas conter o avanço da “onda ultraliberal” no continente. E cuidar da atuação no parlamento. “É verdade que Bolsonaro é um poço de aberrações. (Mas) parte importante do Congresso Nacional dá voz ao conjunto de medidas que afetam a vida do nosso povo.”
Esse é o debate principal, disse Adilson, considerando “perda de tempo” uma discussão sobre estrutura sindical neste momento. Ele também defendeu a articulação de uma frente ampla das forças progressistas. “A batalha eleitoral se resolve à medida que a gente se une”.”
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, defendeu a inclusão de mais partidos nessa união. “Só chegamos a um governo popular quando houve um leque de alianças amplo. Não basta uma frente de esquerda. É preciso ocupar o espaço democrático. Quanto mais ampliar o leque de alianças, mais chances teremos.”
Na avaliação do secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, Bolsonaro está fazendo “uma nova Constituinte, uma reversão completa das conquistas da Constituição de 1988”, com transferência do dinheiro público e da renda do trabalho para o “rentismo”, o sistema financeiro. “Precisamos reconectar o conjunto da esquerda com aquilo que de fato interessa à maioria do povo”, afirmou. Pela CSP-Conlutas, Atenágoras Lopes destacou a importância de uma “frente de uma unidade de ação, independentemente de uma frente eleitoral”.
Também falaram Emanuel Melato, da coordenação da outra central que leva o nome de Intersindical, e o presidente da Nova Central em São Paulo, Luiz Gonçalves, o Luizinho.
Fonte: O Vermelho