A plenária com 87 entidades dos movimentos sociais, em São Paulo, apresentou propostas à chapa de Lula e Alckmin. Lideranças criticaram a violência policial contra os mais pobres e a inflação de alimentos que atinge os brasileiros com a fome.
Representantes de 87 entidades dos movimentos populares que se encontraram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta (27), em São Paulo, destacaram a importância de o Brasil voltar a ter um governo progressista para reconstrução do país e retomada de políticas públicas voltadas para os segmentos mais pobres e discriminados da população. Ainda entregaram um documento com demandas dos movimentos ao pré-candidato. Baixo o documento para conhecer as propostas.
Todos apontaram a volta da fome e a violência como males ampliados pelo atual governo de Jair Bolsonaro (PL) que precisam ser vencidos num eventual novo governo liderado por Lula. A plenária ocorreu na Casa de Portugal, na capital paulista, que teve também a participação de representantes dos sete partidos de centro-esquerda (PT, PCdoB, PV, PSB, Rede, Psol, Solidariedade) que integram a chapa.
“Sem dúvida alguma, a vida da população negra piorou no governo Bolsonaro porque, quando a gente fala em fome, desemprego e morte, a principal vítima é o pobre e o negro, a maioria do Brasil”, disse Simone Nascimento, da coordenação nacional do Movimento Negro Unificado.
Ela lembrou que os governos de Lula e Dilma tiraram o Brasil do Mapa da Fome e instituíram as cotas raciais. “Precisamos recuperar isso e avançar no combate ao genocídio. Dar um basta à violência policial que matou Genivaldo em Sergipe, sob comando da Polícia Rodoviária Federal de Bolsonaro, e também na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro”.
Júlia Aguiar, coordenadora nacional do Levante Popular e vice-presidente da UNE diz que os quatro anos do governo Bolsonaro foram duros para o Brasil porque a crise econômica se intensificou num projeto voltado para a elite. “A gente viu a volta da fome. O governo Bolsonaro criminaliza os movimentos sociais, ataca a democracia e é aliado daqueles que promovem o extermínio da juventude pobre, preta e que vive na periferia. Lula rompe com esse projeto porque abre espaço para os movimentos sociais apresentarem as pautas e porque foi o presidente na história do Brasil que conseguiu diminuir as desigualdades e colocar a juventude na universidade e no mercado de trabalho formal”.
Representante da União Brasileira de Mulheres e ex-presidente da UNE, Carina Vitral também diz que o Brasil de Lula era muito diferente e melhor para a juventude e as mulheres porque representava oportunidades. “Com Bolsonaro, mulheres e jovens encontram portas fechadas, além de desemprego, violência e genocídio. Nossa luta é para voltar a andar de cabeça erguida”.
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz, também denuncia que, no governo atual, os estudantes não conseguem ter acesso à educação, o povo brasileiro não tem comida no prato, nem perspectiva de trabalho e renda, assim como também falta acesso a coisas básicas, como as vacinas. “Lula é virada de chave para tudo isso, para a reconstrução do Brasil desenvolvido, do Brasil justo, com acesso a educação e saúde e para um Brasil feliz. No Brasil de Bolsonaro as pessoas são infelizes. No Brasil de Lula as pessoas eram felizes”.
Soniamara Maranho, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), diz que a questão principal do atual governo é o risco à soberania do país, com o processo de privatização do setor energético, a entrega do patrimônio público, a exploração dos recursos naturais e a retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. “Agora precisamos retomar a democracia, acabar com o fascismo e refundar o Brasil”.
Mineira de Diamantina (MG), Cristiana Santos, 37, estudou Humanidades na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, graças as cotas raciais instituídas pelos governos do PT. Militante do MTST, e participante da ocupação Vitória na cidade onde vive, Cristiana diz que o governo Bolsonaro dificultou o acesso à universidade e criou um ambiente no país favorável ao aumento de violência a pessoas LGBTQIA+ como elas.
“Os programas sociais foram cortados ou hoje têm um acesso mais difícil. Hoje vejo pessoas como eu, sem a mesma oportunidade que eu tive de ir para a universidade”, disse ela.
A indígena Vanuza Kaimbé também vê retrocessos do atual governo. Ela migrou da Bahia para São Paulo há 35 anos, teve o primeiro emprego como babá e foi, inspirada pela trajetória de Lula, em busca de estudos. Hoje é formada em serviço social. Entre as conquistas dos governos do PT, ela ressalta programas como Luz para Todos e de construção de cisternas, que melhoram a vida em comunidades indígenas. Ela disse também que os parentes indígenas tiveram maior acesso à educação superior por causa dos governos do PT.
Mãe Rose de Oxossi, da Casa da Caçada, disse que a filha Carolina só conseguiu se formar na universidade por causa de programas, como Prouni e Fies, instituídos nas gestões petistas. “Ele deu oportunidades”. Mãe Rose diz também que as pessoas de religiões de matriz africana, como ela, vivem hoje com menos proteção por causa do governo que estimula a violência e não respeita a diversidade religiosa, mesmo o Brasil sendo um país laico.
Durante o evento, todos fizeram um protesto contra a morte violenta de Genivaldo de Jesus Santos, que morreu asfixiado depois de ser vítima de uma ação de policiais rodoviários federais em Sergipe, na quarta-feira. Nas mãos, exibiram um cartaz cobrando justiça por Genivaldo.
Representando o movimento negro, Simone Nascimento cobrou justiça e disse que há uma “barbárie em curso no país”. “Precisamos reagir à violência policial ou seremos mortos”, afirmou. Simone lembrou da chacina na Vila Cruzeiro, no Rio, que matou ao menos 26 pessoas e defendeu mudanças na política de segurança pública do país.
Outro ato político, ocorreu no início do discurso de Lula, que defendeu a eleição do candidato de esquerda Gustavo Petro na disputa pela presidência da Colômbia. O ex-presidente gravou um vídeo com o pedido de voto a Petro, que foi repetido, em jogral, pela militância presente no ato.
Não admitirão novo golpe
No discurso, o ex-presidente fez um aceno ao movimento indígena e prometeu não só ampliar a demarcação de terras indígenas, mas também acabar com o garimpo ilegal nessas regiões.Lula prometeu também reconhecer territórios quilombolas.
A militante Sônia Guajajara (Psol), uma das principais lideranças indígenas do país, afirmou que os movimentos populares “não admitirão um novo golpe”, em referência ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
“Nós não vamos mais admitir um novo golpe nesse país. Nós estamos vivendo até agora as consequências do golpe de 2016”, afirmou Sônia. “Não podemos mais permitir o Brasil nesse caminho e é por isso que estamos firmando um novo caminho. Queremos firmar juntos com vocês”, afirmou a militante de causas indígenas e pré-candidata a deputada federal.
Fonte: O Vermelho