De amanhã (17) até sábado (19), a Escola Sul da CUT, em Florianópolis, sedia a Feira Estadual da Reforma Agrária. Serão mais de cem tipos de produtos, artesanato e muita troca de saberes.
São Paulo – Enquanto o governo de Jair Bolsonaro segue ritmo alucinante de liberação de agrotóxicos para satisfazer a fome do agronegócio, assentamentos da reforma agrária têm na agroecologia o seu modelo a ser seguido para produzir alimentos em harmonia com a natureza e oferecer alimentos livres de venenos à população, como na Feira Estadual da Reforma Agrária de Santa Catarina, que começa nesta quinta-feira (17) e termina sábado (19), na Escola Sul da CUT, em Florianópolis. Comunidades do norte da cidade receberão doações.
Os assentados vão oferecer mais de 100 tipos de produtos in natura, processados e industrializados, que virão de assentamentos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e de Minas Gerais. Haverá também espaço para artesanato, inclusive indígena, e de participação de movimentos sociais, como o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), e da economia solidária.
O objetivo da feira é fomentar o diálogo entre campo e cidade, permitindo o debate sobre questões tão urgentes relativas à segurança alimentar, reforma agrária e meio ambiente.”É um espaço de incentivo para os produtores, de interação entre quem produz e quem consome e de troca de saberes”, disse à RBA o agrônomo Álvaro Santin, presidente da Cooperativa Central da Reforma Agrária.
Segundo ele, a produção agroecológica é uma diretriz do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) para todos os assentamentos e acampamentos. Tanto que muitos deles já produzem sem agrotóxicos e outros insumos químicos, como os produtores de arroz. E outros estão em processo de transição, em que a produção agrícola deixa de utilizar agroquímicos.
Indústria dos agrotóxicos
Mas o assédio da vizinhança dos assentamentos e, principalmente da indústria do veneno, é grande. Por meio do grande comércio agropecuário, oferece aparentes vantagens com os chamados pacotes formados por sementes, fertilizantes e venenos para matar mato, insetos, fungos, além de financiamentos e até mesmo propostas de compra da produção. “Depois, na hora de vender a produção, o agricultor vê que vai receber menos do que pagou no pacote”, disse o agrônomo. “Nossa luta é diária, árdua”.
Isso acontece porque falta no Brasil uma política de incentivo à agroecologia, aos pequenos produtores e principalmente à reforma agrária. Enquanto propostas como o Pacote do Veneno avançam no governo Bolsonaro, tendo sido aprovado na Câmara no início de fevereiro, o PL 6670/2016, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara), continua engavetada na Câmara.
Do mesmo modo, o governo vetou praticamente todos os projetos de incentivo aos pequenos agricultores, entre os quais estão os assentados da reforma agrária. E quando não vetou, não permitiu que fosse implementado na prática, impedindo repasse de recursos. Mesmo assim, os assentados vão resistindo, passando a produzir de maneira cooperativa.
Em Santa Catarina há mais de oito cooperativas formadas por assentados. Entre elas, a Cooperativa Central da Reforma Agrária, presidida por Santin, com mais de mil associados. Ali produzem mais de 500 mil litros de leite por dia, que é processado, gerando a própria renda. ‘Estamos caminhando para a produção orgânica de leite. Mas já há todo um cuidado na produção, assim como há na produção de laticínios, feijão, conservas. Buscamos a sustentabilidade”, disse.
Fonte: Rede Brasil Atual