Sob a liderança do Partido Comunista, a China se transformou em um gigante socialista.
Por Osvaldo Bertolino
Há 98 anos, em 1º de julho de 1921, em uma noite de céu carregado de nuvens escuras ameaçando chuva Mao Tse-tung partiu para Xangai, secretamente, para participar do primeiro Congresso do Partido Comunista da China. Doze delegados reuniram-se no evento, realizado numa escola na então concessão francesa de Xangai. Como era período de férias, o prédio estava vazio e, mediante uma gorjeta, o porteiro abriu as portas de um modesto celeiro dos fundos, onde se reuniram os fundadores do comunismo chinês.
Perseguidos pela polícia, alertada por um infiltrado, os delegados fugiram – dois foram detidos – e terminaram o Congresso sob o disfarce de um piquenique a bordo de uma pequena embarcação no meio do lago, 50 quilômetros ao sul de Xangai. O PC da China nascia com uma lista de 52 membros. Rapidamente a organização se expandiu pela China e criou organizações em outros países, como a França, a Alemanha, a Rússia e o Japão.
Depois de uma longa marcha, literalmente falando, em 1949 os comunistas chineses, liderados por Mao Tse-tung, anunciaram a vitória da Revolução. Foram 37 anos de guerra. O líder da marcha declarou: “Desde 1927 até o momento presente, o centro de gravidade de nosso trabalho residiu nas aldeias. Recrutamos nossas forças nas aldeias e as utilizamos para cercar as cidades e ulteriormente tomá-las. O período caracterizado por estes métodos de trabalho já terminou. O período ‘da cidade ao campo’ e de ‘a cidade dirige as aldeias’ começou.”
Estava proclamada a República Popular da China. Mais 475 milhões de pessoas passaram para o campo socialista. “Nossa grande terra está livre do sistema semicolonial e semifeudal, e inicia-se no caminho da independência, liberdade, paz, unidade, força e prosperidade”, disse Mao Tse-tung. Em 1º de outubro de 1949, o primeiro presidente da nova nação revolucionária anunciou, na Praça Tien An Men (Praça da Paz Celestial), a fundação da nova China, simbolizada pela bandeira com um retângulo vermelho e cinco estrelas – as quatros menos representando as classes aliadas (operários, camponeses, pequenos burgueses e burguesia Nacional), gravitando em torno da estrela maior, o Partido Comunista.
Homenagem dos comunistas brasileiros
Mao Tse-tung era muito considerado pelos comunistas brasileiros. No Pleno Ampliado do Comitê Nacional do Partido Comunista do Brasil (então com a sigla PCB) realizado entre 4 e 13 de janeiro de 1946, o líder chinês foi o presidente de honra. Uma inscrição dizia: “Do Partido Comunista do Brasil a Mao Tse-tung, o heroico bolchevique, dirigente máximo do Partido Comunista da China”. João Amazonas, em nome da Executiva, falou de improviso sobre Mao Tse-tung — segundo ele, uma homenagem aos povos e milhões de trabalhadores dos países dependentes e semidependentes, que lutavam pela paz e pela liberdade, pela liquidação dos inimigos do seu progresso e independência nacional.
Em setembro de 1956, Pedro Pomar, membro da direção nacional do Partido Comunista do Brasil, desembarcou em Pequim para acompanhar o VIII Congresso do Partido Comunista da China e ouviu Mao Tse-tung dizer em seu Informe Político que “o prestígio, a influência e a experiência dos chefes têm sido extremamente preciosos para o partido e o povo”, uma referência aberta aos ataques do grupo do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) liderado de Nikita Kruschev a Josef Stálin, então recém-falecido. “Prezar e saudar os chefes não significa torná-los objeto de adoração”, completou o líder chinês. Pomar levou uma mensagem do Comitê Central do PCB, assinada por Luiz Carlos Prestes, transmitida na íntegra pela Rádio Pequim.
Na crise estabelecida com o XX Congresso do PCUS, realizado em 1956, uma prolífica publicação de documentos mostrou o abismo que se formara entre a China e a União Soviética. Em outubro de 1961, o XXII Congresso do PCUS se prestou a novos ataques ao histórico líder soviético, vigorosamente rebatidos pelo representante chinês, Chou En-lai.
A troca de farpas era aberta. Quando Kruschev subiu à tribuna e começou a criticar em termos violentos a Albânia, Chou En-lai, que também era primeiro-ministro do seu país, retirou-se ostensivamente da sala de debates. Os soviéticos, em um lance teatral, chegaram ao extremo de retirar do túmulo de Lênin os restos mortais de Stálin, ao passo que o representante chinês homenageava a sua memória depositando uma coroa de flores na nova sepultura do histórico líder soviético.
Política externa
Após o rompimento entre as duas potências socialistas, a China entrou na polêmica “Grande Revolução Cultural Proletária”, mais tarde avaliada pelo Partido Comunista como um grande erro, que se constituiu em atraso para o país. Mais à frente chegaram as reformas e a abertura, criadas por Deng Xiaoping. Essa nova fase do socialismo chinês trouxe desenvolvimento rápido para o país e deu uma contribuição significativa ao desenvolvimento de todo o mundo.
No curso da reforma e abertura, 250 milhões de chineses se livraram da pobreza, ocupando 2/3 da população que saiu da pobreza no mundo, o que foi uma grande contribuição para toda a humanidade. De acordo com os dados oficiais, a superfície urbanizada da China subiu de 17,9% para 50% do território nacional. Durante este processo, as metrópoles que mais brilharam foram Pequim, Shanghai e Shenzhen.
Outro fenômeno chinês de grande relevância é a definição dos princípios de sua política externa, voltada para a coexistência pacífica. Ao mesmo tempo, o país responde com altivez às provocações sobretudo dos Estados Unidos. Sem o seu arsenal de 120 mísseis e 420 ogivas nucleares, a China seria apenas mais um país “emergente”. Ninguém lhe perguntaria a opinião em assuntos estratégicos. Provavelmente a Inglaterra não lhe teria devolvido Hong Kong e os Estados Unidos manteriam por lá milhares de agentes especiais subvertendo a ordem socialista e trabalhando em prol do “capitalismo cristão”.
O 11º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, realizada em 1978, definiu o modelo de crescimento e o desenvolvimento pacífico tornou-se parte da estratégia nacional. Todo esse arcabouço teórico trouxe enormes benefícios internos. Um deles é o salto educacional. Ao enumerar os principais eventos que afetaram a China nas últimas três décadas, a maioria dos chineses colocou o Exame Nacional para Entrada na Faculdade (Gaokao, em chinês) em primeiro lugar da lista. Em dezembro de 1977, 5,7 milhões de chineses participaram do exame nacional, o primeiro do tipo desde o começo da catastrófica Revolução Cultural (1966-1976).
Educação obrigatória Desde então, milhões de estudantes graduaram-se de instituições de ensino superior de vários tipos, para formar uma força de trabalho de alta qualidade. De acordo com dados oficiais, as instituições de ensino superior chineses inscreveram cerca de 53,86 milhões de estudantes nas últimas três décadas, dos 128 milhões de participantes do Gaokao. Ao mesmo tempo, o governo fez grande esforços para desenvolver a educação obrigatória e a ocupacional, com a finalidade de melhorar a qualidade de todos os cidadãos.
Em 2000, a China alcançou sua meta de garantir a educação obrigatória para as crianças e eliminar o analfabetismo entre os jovens e cidadãos de média idade. O grande sucesso nas reformas econômicas ajudou o desenvolvimento da educação no país. Com recursos financeiros suficientes, o governo chinês passou a aumentar o investimento na educação e adotar políticas mais favoráveis, com a maior importância dada à educação nas áreas rurais.
Em 2003, um programa de ensino à distância foi lançado para cobrir 360 mil escolas primárias e secundárias rurais, beneficiando mais de 100 milhões de estudantes. Em 2004, o governo central investiu 10 bilhões de yuans (US$ 1,45 bilhão) para construir mais de 8,3 mil internatos nas áreas rurais.
Em 2006, a China emendou sua Lei de Educação Obrigatória para isentar os estudantes primários e os estudantes nos primeiros três anos do ensino secundário de taxa de matrícula e outras taxas administrativas. A medida foi adotada primeiro nas áreas rurais do oeste do país, região menos desenvolvida, em 2006, e ampliado para o país inteiro em 2007.
Ganhos substantivos mútuos
Além de fazer grandes esforços para alcançar sua meta de ”Educação para Todos”, o governo chinês também tem encorajado estudantes chineses a estudar no exterior. O número subiu de 860 em 1978 para 144,5 mil em 2007. Até o momento, 319,7 mil estudantes chineses voltaram ao país após terem terminado o estudo em outros países. A China também abriu suas portas a estudantes de fora. Nos últimos 40 anos, 1,23 milhões de mais de 180 países e regiões estudaram em instituições de ensino chinesas. No campo, o país também passa por uma revolução. Entre a população chinesa de 1,3 bilhão, mais de 800 milhões vivem no campo rural. Sendo assim, o governo chinês prioriza a produção agrícola e a elevação do nível de vida dos camponeses. A informatização no campo rural chinês prioriza que os camponeses dominem a tecnologia e informações, a fim de melhorar a produção e administração.
A construção da indústria básica e da infraestrutura também foi reforçada de forma significativa, dando um suporte crescente ao desenvolvimento econômico e social do país. A capacidade de abastecimento da agricultura, energia e matérias-primas subiu para um novo patamar. Foram criadas redes de transporte e telecomunicações que cobrem todo o país. As instalações de educação, cultura, educação e esporte também tiveram aprimoramentos.
As vantagens da política externa dos camaradas de Mao Tse-tung e Deng Xiaoping foram percebidas pelo Brasil nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando o país se integrou ao grupo BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) com altivez. Com a firmeza do governo chinês, que não sucumbiu à pressão pela liberalização do seu câmbio, o país socialista pôde puxar as demais economias do grupo, proporcionando ganhos mútuos substantivos.
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