Pesquisador compara fenômeno a seitas lideradas por fanáticos alheios à realidade e conduzidas a “fins trágicos”
Os pouco mais de dois anos de governo Bolsonaro apontam para a consolidação de uma ideologia extremista convertida em seita, e “motociata” ocorrida na manhã deste sábado (12), em São Paulo, é um retrato desse fenômeno. A avaliação é do jornalista Cesar Calejon, que é mestrando em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo e autor do livro A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Lura Editorial). Calejon classifica Bolsonaro, em texto publicado hoje no UOL, como líder de um espécie de “seita suicida”. “Pretende conduzir os seus seguidores, bem como o restante do Brasil, consequentemente, para fins trágicos que encerram tais propostas, invariavelmente.”
O autor compara o fenômeno comportamental em torno do líder ao observado em outros personagens da história que arregimentaram seguidores abstraídos de qualquer sintonia com a realidade antes de os conduzirem aos ditos fins trágicos. Entre eles o guru indiano Bhagwan “Osho” Shree Rajneesh (1931-1990). Ou o pastor Jim Jones (1931-1978), fundador da seita Templo dos Povos, que arrastou quase mil “fiéis” para o suicídio em 1998. Ele cita ainda Dominic Kataribabo – em cuja propriedade em Uganda foram encontrados mais de 70 corpos em decomposição em 2000. E David Koresh (1959-1993), texano proclamado “último profeta” em cuja sede foram incendiadas 76 pessoas em abril 1993.
Na comparação, o jornalista destaca como características comuns com o presidente: “(1) a total falta de contato com a realidade para basear as suas ações e ‘liderança’, (2) uma espécie de ‘aura messiânica’ (com caráter religioso) que impedia os seus sectos de os questionarem com base na razão e (3) um ímpeto assassino que conduziu os adeptos das suas filosofias à morte na tentativa de combater um grande inimigo (ou ameaça) para fazer a manutenção dos seus poderes ou alcançar os seus objetivos insanos”.
Calejon cita também Charles Manson, bandido norte-americano (1934-2017) que utilizou canção dos Beatles como “guia” para convocar guerra racial e o compara com a linha de ação Olavo de Carvalho. Isso porque o guru bolsonarista cooptou seguidores a partir de fantasias negacionistas como a causa “antiglobalista” e a guerra contra o “marxismo cultural” e o “comunismo”.
Segundo o pesquisador, Bolsonaro adotou “absolutamente todos” os fios condutores dos personagens que cita. “Estimulou uma guerra contra o ‘comunismo’, contra a China etc., promoveu a contaminação da população brasileira – sabotando o plano vacinal e difundindo a falsa tese da ‘imunidade de rebanho’ – ao custo de milhares de vidas para promover a retomada econômica antes do próximo pleito presidencial, desacreditou a ciência em nome de soluções messiânicas e catalisou o armamento da população”, escreve o Cesar Calejon. A diferença, ele observa, é que se trate de um presidente de um país que tem a maior população da América do Sul.
“Dessa forma, a eleição de 2022, caso Bolsonaro não sofra o impeachment por conta dos claros crimes que cometeu e estão agora sendo eloquentemente ilustrados pela CPI, será a última fronteira para deter o secto de lunáticos que pretende tomar conta do Brasil”, conclui a análise.
“Motocada do bem”
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aproveitou o grande volume de motociclistas que passaram pelo drive-thru de vacinação contra a covid-19 para ironizar a “motociata” bolsonarista. “Em Timon, a “MOTOCADA” do bem está acontecendo. A pessoa pega a moto para ir se vacinar, não para passeios liderados por um irresponsável”, escreveu.
Acidente na rodovia Bandeirantes
Segundo informações iniciais da concessionária CCR AutoBan, um acidente na altura do quilômetro 30 da rodovia dos Bandeirantes feriu três pessoas que participavam da “motociata”. Mas duas vítimas assinaram termo recusa de atendimento.
Fonte: O Vermelho