Servidores se dizem decepcionados com a condução do governo da crise sanitária e a tentativa de interferência na Polícia Federal.
As diversas categorias do serviço público, que votaram em massa no governo de Jair Bolsonaro, se decepcionaram com a condução do presidente da República na crise sanitária e com a intenção de interferência política na Polícia Federal. A informação está no Blog do Servidor, da jornalista Vera Batista, do Correio Braziliense. A matéria cita fontes do Palácio do Planalto, da Câmara dos Deputados e do Senado.
Também não deve ter atraído a simpatia dos servidores o fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, mais uma vez, torná-los bode expiatório ao dizer que o funcionalismo fica em casa com a geladeira cheia enquanto os brasileiros perdem o emprego. Guedes pediu “sacrifício” aos servidores na pandemia e quer congelar os salários deles por 18 meses.
Segundo o blog, as chamadas carreiras de Estado – que exercem atribuições de Estado, como poder de polícia, arrecadação e fiscalização – se afastaram e pelo menos 60% do carreirão do funcionalismo também pulou do barco.
Segundo uma das fontes ouvidas pelo blog, das 32 carreiras que compõem o Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), apenas uma, o Sinagências – dos profissionais das agências reguladoras –, ainda se mantém aliada.
A fonte lembra que, pelos últimos dados da eleição de 2014, publicados em 2016 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil tinha 202,768 milhões de habitantes. Desse total, 142,822 milhões são eleitores, ou seja, o eleitorado representa 70,44% da população.
“Ora, basta um cálculo simples e básico. Hoje, existem 11,4 milhões de servidores estaduais, municipais e federais. Se multiplicarmos por quatro, considerando um casal com dois filhos, a influência se expande. Podemos considerar 45,6 milhões de pessoas contra Bolsonaro”, afirmou.
Esses 45,6 milhões de possíveis irritados e decepcionados, na prática, são mais de um terço (31,8%) do eleitorado do Brasil. “Muita gente que saiu de casa vestindo verde e amarelo, agora vira as costas, lamenta a escolha e se arrepende de agir por impulso. Restam, nas ruas, alguns alucinados”, destaca a fonte.
Rudinei Marques, presidente do Fonacate, não quis comentar a quantidade de carreiras que ainda estão ao lado do ocupante da cadeira do Palácio do Planalto. Mas admitiu o desencanto.
“A demissão de ministros técnicos como Mandetta e Moro, a ingerência política em instituições de Estado, como no caso da Polícia Federal, a participação do presidente em atos antidemocráticos e a sua incapacidade de lidar com a crise sanitária e econômica deteriorou completamente a confiança no governo. Os servidores estão pasmos com tudo o que vem acontecendo”, afirmou Rudinei.
Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef, que representa 80% do funcionalismo), afirma claramente que “a cada dia vê o muro das lamentações crescendo e muita gente abandonando o barco”. “Acho que cerca de 64% dos servidores em todos os Poderes e esferas estavam com Bolsonaro. Acreditavam que iam melhorar de vida. Mas a ilusão para aproximadamente 60% deles acabou”, disse.
Ele disse que até os concurseiros, que queriam brigar pela busca da estabilidade e por bons salários, perderam a esperança. “Às vezes, eles faziam o primeiro concurso disponível para entrar. Era a filosofia de ‘é melhor um pássaro na mão, do que 10 voando’. Hoje não têm sequer um na mão e os outros nove saíram do radar. A qualidade de vida e o poder de consumo dessas tiveram uma perda enorme. E isso aconteceu em um momento de 45 milhões de desempregados, desalentados, informais e de grande risco à saúde da população no país”, reforçou Silva.
Fonte: O Vermelho