“Falar que é a primeira demarca, mas não é algo muito cômodo pra gente. Dói dizer que somos as primeiras”.
Existe enorme expectativa com o governo Lula, que já começou com a indicação pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, de Symmy Larrat para a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, pasta inédita do governo federal. Essa será a segunda passagem da ativista pela administração federal em menos de 10 anos. A sigla LGBTQIA+ inclui pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexo e assexuais, entre outras categorias.
Auto-identificada como travesti, a paraense Symmy Larrat, 44, foi a primeira mulher trans a ocupar a função de coordenadora-geral de Promoção dos Direitos LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no governo de Dilma Rousseff. Ela também coordenou o programa “Transcidadania”, na gestão Fernando Haddad, em São Paulo.
Primeira travesti a ocupar um cargo no segundo escalão do governo federal, Symmy Larrat afirma sentir certo incômodo com o pioneirismo – uma amostra, segundo ela, de que ainda é necessário um longo caminho para inclusão de pessoas trans em espaços de prestígio. “Eu quero que, daqui a alguns anos, a gente comece a perceber que a gente não é mais a primeira nem a única, mas, sim, várias nesse lugar. Falar que é a primeira demarca, mas não é algo muito cômodo pra gente. Dói dizer que somos as primeiras”
Ela diz que, quando foi assumiu a Coordenação-Geral de Promoção dos Direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, entre 2015 e 2016, havia uma continuidade e ampliação de políticas públicas que já vinham sendo implementadas. “Hoje, a gente chega em um cenário de terra arrasada, em que a gente [população LGBTQIA+] foi defenestrada da política pública”, declarou à Agência Brasil.
“Mas, mesmo com essa perseguição moral do campo do ódio, a gente tem um sentimento de que a gente pode avançar, porque a gente vem em um cenário de composição política ampla, de retomada da democracia no país”.
A secretária afirma que até mesmo os dados disponíveis no Disque 100, serviço que recebe denúncias de violações aos direitos humanos, mostram a invisibilização da população LGBTQIA+ – um “apagamento” que, segundo ela, também ocorreu em áreas como o fomento à cultura.
Ela diz que pretende recriar a nível nacional uma política com bolsas de estudo e trabalho para a população transgênera inspirado no programa paulistano. A secretária quer “reconstituir uma política pública do zero” que garanta o acesso da comunidade LGBT+ à cidadania digna e “retomar com urgência a participação social” nessas pautas. “Percebemos que o governo (anterior) passou o tempo inteiro promovendo o apagamento da nossa pauta e das políticas.”
A médio e longo prazo, Symmy quer também criar protocolos que reforcem a decisão firmada em 2019 pelo Supremo Tribunal Federal, que equiparou a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero à injúria racial. Neste mês, o governo federal sancionou mudanças na Lei do Racismo, o que, segundo especialistas, também transforma as ofensas contra a comunidade LGBT+ em inafiançáveis e imprescritíveis.
“Se eu perguntar hoje para um Estado quantos crimes de homotransfobia foram denunciados na delegacia, tem Estado que não vai saber me responder”, diz Symmy.
Desde o último dia 20, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) promove a campanha virtual “Construir para Reconstruir” com o intuito de marcar a semana do Dia da Visibilidade Trans, celebrado no Brasil em 29 de janeiro. A ação, que tem Simmy Larrat como porta-voz, acontece nas redes sociais e conta com uma série de publicações destacando os avanços legais em âmbito nacional, além de exemplos internacionais de referência para o Brasil.
Fonte: O Vermelho