Anvisa diz ao STF que ameaças de morte se acentuaram após live de Bolsonaro

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: Hugo Barreto/Metrópoles; Cottonbro/Pexels; Clauber Cleber Caetano/Pexels

O ministro do Supremo Tribunal Federal mandou o presidente Jair Bolsonaro e o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, apresentarem informações sobre o fato de o chefe do Executivo ter dito que pediria a divulgação do nome dos responsáveis por autorizar a vacinação de crianças.

A Anvisa entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) todas as informações existentes sobre as ameaças dirigidas a diretores e técnicos da agência, decorrentes da aprovação da vacina da Pfizer contra Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. O número de e-mails intimidatórios ultrapassa 150, para além das ligações. Em um deles, o autor chama um servidor de “fdp”, “safado” e “assassino”.

 

“Olhe para as tuas mãos, estão sujas de sangue, seu assassino desgraçado. Você é mais um comunistinha sem caráter, traíra do presidente e sem vergonha na cara, usando essa gravatinha vermelha, cor de sangue das criancinhas que você está assassinando”, afirma um e-mail, do dia 18 de dezembro.

 

“Quem ameaçar, quem atentar contra a segurança física do meu filho: será morto”, escreveu o empresário paranaense Douglas Bozza no e-mail. Ele também foi ouvido pela Polícia Federal. “Isto não é uma ameaça. É um estabelecimento. Estou lhes notando por escrito porque não quero reclamações depois”, disse na mensagem. Com a conclusão do inquérito e posterior denúncia, agora cabe à Justiça decidir se transforma o investigado em réu pelo crime de ameaça.

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal mandou o presidente Jair Bolsonaro e o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, apresentarem informações sobre o fato de o chefe do Executivo ter dito que pediria a divulgação do nome dos responsáveis por autorizar a vacinação de crianças.

 

Bolsonaro fez ameaças aos servidores da Anvisa em sua live da semana passada. No dia 16, em uma live em suas redes sociais, afirmou: “Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de cinco anos. Queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento”. A partir daí se acentuaram as ameaças que já vinham sendo feitas.

 

A Anvisa contestou a intimidação feita pelo presidente. “A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada, que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão”, afirmou a agência, em nota no dia 17.

 

Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vêm agindo para dificultar e postergar a vacinação de crianças contra a Covid-19. Queiroga, atendendo a um desejo de Bolsonaro, abriu uma consulta pública sobre a vacinação de crianças e recomendou que a imunização só ocorra mediante prescrição médica, o que foi classificado como “idiotice”, “procrastinação” e “absurdo” por especialistas em infectologia e saúde pública.

 

O mundo inteiro já está vacinando suas crianças. Os pequenos de países como Canadá, Cuba, EUA, China, Argentina, Chile e outros já foram imunizados. Todas as autoridades sanitárias do país já se posicionaram pela vacinação das crianças. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou na quinta-feira (16) o uso da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de se posicionar pela vacinação imediata das crianças. A entidade disse que as mortes da população pediátrica por covid-19 não estão “em patamares aceitáveis” e defendeu a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, em manifesto divulgado na sexta-feira, 24. No texto, a SBP pede pela “urgente implementação de estratégias” para reduzir risco de complicações, hospitalizações e mortes do público infantojuvenil pela doença.

 

“Ao contrário do que afirmou recentemente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o número de hospitalizações e de mortes motivadas pela covid-19 na população pediátrica, de forma geral, incluindo o grupo de crianças de 5-11 anos, não está em patamares aceitáveis”, diz o manifesto da SBP. “Infelizmente, as taxas de mortalidade e de letalidade em crianças no Brasil estão entre as mais altas do mundo.”

 

Fonte: O Vermelho