ATO NO PARÁ UNIFICA E AMPLIA A LUTA EM DEFESA DA AMAZÔNIA

Unificar e ampliar a luta em defesa da Amazônia e dos povos da floresta. Este foi o mote do ato realizado nesta quinta-feira (17) em Marabá, no Pará, pelo Fórum Permanente em Defesa da Amazônia. Parlamentares, lideranças indígenas, ambientalistas, acadêmicos, representantes de movimentos sociais e sindicais reafirmaram reforçaram a importância da união e da resistência contra os ataques do governo Bolsonaro ao meio ambiente e às populações tradicionais.

O ato acontecerá ao longo dia e pretende reunir ações e sugestões dos moradores da região para fortalecer a luta em defesa da Amazônia. Do encontro sairá uma carta, intitulada Carta de Marabá, que será entregue ao Papa Francisco. “No Sínodo para a Amazônia, pedi que o Papa recebesse nossa carta para reforçar nossa luta”, afirmou o deputado Airton Faleiro (PT-PA), coordenador do Fórum.

Segundo ele, o Fórum Permanente em Defesa da Amazônia surgiu da necessidade de resistência aos ataques ao meio ambiente, aos territórios dos povos da Amazônia. “Vemos um governo que autoriza esses ataques com seu discurso. Então, o fórum é uma resposta. É composto por vários partidos, pelas principais organizações ambientalistas, indígenas, organizações populares e sindicais, pela academia e ciência” disse.

A líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), participou da mesa de abertura do evento. Para ela, a existência do Fórum apenas em Brasília não é suficiente e destacou a importância do ato realizado em Marabá.

“Nós falamos muito, e falar significa pronunciamento público, denúncia, mas também significa pedir ajuda, cooperação. Mas ouvir também é um ato político, pois significa aprender, trocar. Estar hoje aqui significa que nós precisamos aprender muito sobre os povos da região. O difícil é saber ouvir para errar menos e construir coletivamente as ações, os projetos. Não vamos construir nada sem ouvir os povos da Amazônia. Sabemos que a Amazônia sofre com mineração, com garimpo, grilagem, desmatamento. Esse governo é cúmplice disso tudo. Mas nós não vamos deixar. Vamos resistir juntos, pois não podemos deixar que se destrua aquilo que viemos construindo ao longo de anos”, pontuou.

Jandira lembrou ainda que o PCdoB já perdeu muitas lideranças na luta em defesa pela terra e reafirmou a necessidade de da construção de políticas que diminuam a violência no campo, que protejam crianças, homens e mulheres. “Precisamos diminuir as mortes no campo, precisamos de reforma agrária. Precisamos de uma política de desenvolvimento sustentável, de um projeto de desenvolvimento com a floresta em pé e vocês são fundamentais para encontrarmos as soluções”, destacou Jandira.

Raoni

O ato também contou com a defesa do cacique Raoni Metuktire. Importante liderança indígena do povo Kayapó, Raoni virou mais um alvo dos ataques de Bolsonaro. O indígena, que já percorreu o mundo em defesa dos direitos dos povos originários, foi classificado de marionete pelo presidente da República na ONU. O discurso, no entanto, foi imediatamente repudiado por políticos, indígenas, artistas, acadêmicos.

Durante o ato, Raoni também recebeu apoio dos presentes. Representando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Ubirajara Sompré, da etnia Gavião, afirmou que Bolsonaro tem desrespeitado reiteradamente os povos indígenas e seus territórios e reiterou a importância da união para impedir o avanço das ações estimuladas pelo governo.

“Bolsonaro tem feito várias coisas, inclusive desrespeitando nosso líder Raoni. Nós não precisamos que ele venha dizer que precisamos nos integrar. Nós estamos integrados. Precisamos de apoio, ser respeitados, ter garantidos nossos direitos. Não precisamos desse governo que vem nos atacando e difamando. Temos que estar unidos para manter nossos territórios”, destacou.

No auge da experiência, Raoni observava e acompanhava o ato atento. Antes de sua fala, levantou-se e foi para frente da mesa composta, chamou os Kayapó presentes para a frente e com sua borduna na mão fez uma dança que teve como resposta um forte coro kayapó.

Raoni falou para os parentes. “Nós precisamos nos unir para ter mais força e lutar pela liberdade e pela Amazônia. Nós temos que preservar nossa cultura e nossa tradição, que são nossas raízes”, disse sob aplausos dos Kayapó.

O líder indígena também falou para os brancos presentes e criticou o governo Bolsonaro. “Eu sou contra homicídio, bandido, ladrão e esse próprio governo está apoiando esse tipo de ação, incentivando violência contra os indígenas também. Eu quero que todos os brasileiros, indígenas, vivam em paz. Antes eu era inimigo, mas agora não sou mais. Agora somos amigos e estamos lutando para viver em paz, sem matança. Todos os governos brasileiros respeitaram os povos da Amazônia e indígenas, mas esse governo não respeita os povos da floresta. Por isso, esse encontro é para a gente unir força e combater esse governo que está aí”, destacou Raoni.

Primeira indígena eleita deputada federal, Joênia Wapichana (Rede-RR), destacou que o governo tem “maltratado as pessoas de todo o Brasil” e que a união é estratégica para barrar Bolsonaro.

“Todos os dias vemos retrocessos nos nossos direitos. Estamos atendendo ao chamado dos povos da floresta, dos ribeirinhos, extrativistas. A Amazônia não é um mercado a ser explorado, temos vidas aqui. Viemos fortalecer nossa união, nossas alianças e estratégias. Aqui não é a luta de um partido, ou de um grupo, mas de todos. Essa luta é pela vida. É nossa responsabilidade chamar a atenção das autoridades para isso e nos manifestar contra a impunidade. Temos diversos crimes praticados nessa região. As vítimas são aqueles que defendem a Amazônia. Temos que cobrar respostas a essas impunidades. Não vamos deixar retroceder nenhum direito. Raoni representa toda a nossa resistência. E esse descontrolado [Jair Bolsonaro] em vez de arrumar soluções para a Amazônia fica nos atacando. Não vamos permitir”, afirmou Joênia.

Fonte: O Vermelho