Bolsonaro desautoriza Mourão sobre 5G e mostra submissão aos EUA

Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão - Foto: Bruno Batista /VPR

Vice-presidente manifestou, na segunda-feira (07), opinião contrária ao banimento da Huawei do país. Disse que isso sairá caro ao Brasil. “E quem é que vai pagar esta conta? Somos nós, consumidores”, afirmou Mourão.

O presidente Jair Bolsonaro desautorizou nesta terça-feira (08) o seu vice, Hamilton Mourão, que defendeu, na segunda-feira (07), a participação da empresa chinesa Huwei na licitação para instalação da tecnologia 5G no Brasil.

Mourão havia alertado que o banimento da Huawei, que já atua no Brasil há muito tempo, custará mais caro ao país. O governo dos EUA quer que o Brasil proíba a presença da empresa chinesa em seu território.

Em sua palestra na Associação Comercial de São Paulo, Mourão ressaltou que hoje 40% da infraestrutura do país em 3G e 4G é de tecnologia da empresa chinesa. “Se, por um acaso, dissessem: ‘A Huawei não pode fornecer equipamento’, vai custar muito mais caro. Porque vai ter que desmantelar tudo que tem aqui, porque ela não fala com os equipamentos das outras. E quem é que vai pagar esta conta? Somos nós, consumidores. Eu vejo dessa forma”, disse.

Bolsonaro respondeu no dia seguinte. “Ninguém vem falar (sobre) 5G comigo – e não está aberta a agenda para quem quer que seja a pessoa – a não ser que ela venha acompanhado (sic) do ministro Fábio Faria, das Comunicações”, disse Bolsonaro em evento no Planalto. “Repito, 5G ninguém fala comigo sem antes conversar com Fábio Faria”, insistiu.

Com a medida, Bolsonaro reforça as iniciativas de seu filho, o deputado Eduardo Bossonaro, que recentemente repetiu o discurso do governo americano e acusou a China de usar a Huawei para fazer espionagem para o Partido Comunista da China.

Donald Trump sabe que seu país perdeu a corrida tecnológica neste setor para as empresas da China e tenta obrigar os países sob sua influência a banirem a gigante asiática Huawei.

Bolsonaro dá sinais claros de que pretende se submeter aos interesses americanos também neste assunto. Esta semana foi noticiado pelo jornal “O Globo” que ele proibiu qualquer ministro de seu governo se reunir com o embaixador da China. Uma atitude que demonstra apoio aos ataques do filho ao país asiático, que foram respondidos pelo embaixador.

Nesta terça, após receber representantes das cinco principais operadoras do País (Vivo, Claro, Oi, TIM e Algar Telecom), que se manifestaram contra o banimento da Huawei, o ministro das Comunicações, Fabio Faria mostrou que está afinado com Bolsonaro na defesa dos interesses americanos. Ele disse que a rede 5G seria tratada pelo Ministério das Comunicações e pela Presidência da República.

“Esse tema será tratado entre mim e o presidente da República, até porque Mourão está com o Conselho da Amazônia, que demanda muita atenção e muito trabalho. Acho que ele não vai ter tempo para tratar também do tema do 5G, que está sendo bem tratado pelo ministério”, disse o ministro.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deve publicar o edital da licitação até o fim de fevereiro, mas não tem poder para banir a fornecedora chinesa. A decisão depende de decreto presidencial.

A presidente da Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra), Vivien Mello Suruagy, alertou na terça-feira (1) que a restrição da Huawei, que tem até 50% de participação no mercado brasileiro, acarretaria para empresa altos custos para a substituição das redes, com repasses para os consumidores e atraso na difusão do 5G.

“A proibição a empresas não faz parte de uma economia de mercado nem do comércio global e certamente significaria aumento nos custos para o setor de telecomunicações, afetando toda a economia, num danoso efeito em cascata, das operadoras aos consumidores”, afirmou a Suruagy, em entrevista ao Estadão. A Feninfra representa mais de 100 mil empresas no País que fazem instalações de banda larga, telefone e TV.

Suruagy explicou que as empresas vão precisar usar as redes 4G e os equipamentos que já estão em funcionamento para servir de suporte aos componentes das novas redes 5G. “Se tivermos um bloqueio da Huawei e for proibido usar o 5G dela, então o 4G chinês também não poderá continuar funcionando. Todas as redes vão precisar ser substituídas. E o custo para trocar tudo isso é exorbitante”.

Para a executiva, mesmo que houvesse ameaça à segurança, como argumenta o governo, “temos todas as condições técnicas para nos defender de ameaças. É possível monitorar e auditar aspectos ligados à segurança de dados”.

Fonte: Hora do Povo