Presidente do Senado pode ir para o Ministério do Desenvolvimento Regional ou para a Secretaria de Governo.
Mesmo com o apoio aberto do governo Jair Bolsonaro, a candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara Federal estagnou. Diante desse impasse, o Palácio do Planalto agora quer controlar ao menos o Senado e entrou em campo pela construção de uma candidatura única à sucessão de Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Segundo o jornal Valor Econômico, Bolsonaro ofereceu até mesmo um ministério ao atual presidente do Senado – que pode ser o do Desenvolvimento Regional (no lugar de Rogério Marinho) ou o da Secretaria de Governo (substituindo Luiz Eduardo Ramos). Cada vez mais pragmático e fisiológico, o presidente da República já mandou acenos à cúpula do DEM e do MDB.
Na Câmara, os dois partidos estão unidos à frente da candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que conta com o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e também da oposição. Mas Bolsonaro quer atrair demistas e emedebistas para um acordão, já que o Senado, entre outras agendas, pode vir a julgar processos de cassação do mandato do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Não passa, portanto, de bravata o discurso de Bolsonaro segundo o qual ele não vai interferir na eleição para as novas Mesas Diretoras.
Conforme o Valor, um aliado de Alcolumbre diz que o grupo vê com bons olhos a proposta do político do DEM-AP assumir a pasta do Desenvolvimento Regional. Caso o troca-troca se concretize – diz este aliado –, Alcolumbre “ajudaria mais os senadores”, pois o ministério executa políticas públicas estratégicas no âmbito estadual, como os programas de moradias populares e de combate à seca. Em contrapartida, se o caminho de Alcolumbre for a Secretaria de Governo – e, por extensão, a articulação política do governo federal –, ele “ajudaria mais Bolsonaro” na interface com o Congresso.
É nesse pano de fundo que Bolsonaro conduziu uma rodada de reuniões com Alcolumbre e com os líderes do MDB no Senado nos últimos 11 dias para discutir a sucessão na Casa. Ao regressar da viagem a Santa Catarina, Bolsonaro almoçou com Alcolumbre e com seu pré-candidato à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no Palácio da Alvorada, no último dia 24. Alcolumbre aproveitou o encontro, que não constou da agenda presidencial, para mediar uma aproximação de seu aliado com Bolsonaro.
Antes das férias, Bolsonaro havia se reunido com os três pré-candidatos do MDB à sucessão de Alcolumbre. No dia 17, durante a posse do ministro do Turismo, Gilson Machado, o presidente esteve com Fernando Bezerra (PE), líder do governo no Senado; Eduardo Gomes (TO), líder do governo no Congresso; e Eduardo Braga (AM), líder da bancada.
Conforme um ministro ouvido pelo Valor, apesar da afinidade entre o presidente e Alcolumbre, Bolsonaro não se opõe à candidatura de um dos três senadores do MDB mais alinhados ao governo. Nos bastidores, Bezerra, Braga e Gomes vêm sendo chamados de “três mosqueteiros”. O Planalto também não faria restrições ao candidato do DEM. Já a senadora Simone Tebet (MDB-MS) seria vista pelo Planalto como “muito independente”.
Nos últimos dias, entretanto, os senadores do MDB sofreram um revés com a indicação de Baleia Rossi, presidente do partido, para representar o grupo de Rodrigo Maia na eleição para o comando da Câmara. A escolha de Baleia fragiliza o movimento do MDB do Senado, porque líderes de outros partidos resistem à possibilidade de que o MDB volte a presidir as duas Casas como já ocorreu no passado, com Michel Temer na Câmara, e Renan Calheiros (MDB-AL) no Senado.
A cúpula do MDB também argumenta que o critério da proporcionalidade deveria nortear a escolha do candidato no Senado, já que o partido tem a maior bancada e, por isso, teria a primazia de indicar o candidato à presidência da Casa. Com o retorno de Veneziano do Rêgo (MDB-PB), que está licenciado. Quando ele reassumir o mandato para votar na eleição, em fevereiro, serão 14 titulares na bancada.
Em favor do MDB, também conta o receio do PSD com a candidatura de Rodrigo Pacheco. Ajudar a eleger o mineiro para a presidência do Senado implica fortalecer o adversário de Alexandre Kalil (PSD), prefeito reeleito de Belo Horizonte, ao governo de Minas Gerais em 2022. Os outros dois senadores mineiros, acrescente-se, são aliados de Kalil: Antonio Anastasia e Carlos Viana, ambos do PSD.
Em paralelo, Bolsonaro ouviu muitas reclamações de senadores governistas à escolha de Pacheco, atribuindo ao mineiro um “histórico de deslealdades”. No episódio mais conhecido, teria atirado o então presidente Michel Temer aos leões quando era presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Câmara em 2017.
Interlocutores de Alcolumbre dizem que as pressões para que o Planalto busque um consenso partem do MDB e descartam o entendimento neste momento. Alcolumbre tem dito a pessoas próximas que são os emedebistas que apelaram ao Planalto pela interferência na disputa.
Além disso, o DEM deve oficializar a candidatura de Pacheco à presidência do Senado até a primeira quinzena de janeiro. O próprio Alcolumbre costuma dizer que Pacheco já tem votos garantidos até mesmo dentro da bancada do MDB. Publicamente, o presidente do Senado rechaça a possibilidade de o DEM aceitar um cargo ministerial em troca da retirada de Pacheco da disputa. Segundo um interlocutor, Alcolumbre só vai analisar possíveis convites do governo para assumir um ministério a partir de fevereiro.
Alcolumbre quer repetir a mesma estratégia que o elegeu em 2019. No início do ano, ele vai começar a viajar os estados para visitar os senadores em suas bases eleitorais. O presidente do Senado atribui ao “corpo a corpo” o fator decisivo para a derrota de Renan Calheiros no último pleito.
Fonte: O Vermelho