Petroleiros acusam o vice de Bolsonaro de replicar o discurso do mercado, defendendo a venda das refinarias, enquanto posa de nacionalista ao se posicionar contra a privatização da estatal.
O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, ganhou os holofotes da mídia ao se posicionar contra a privatização da Petrobras, trocando farpas com o presidente Jair Bolsonaro, que afirmou recentemente que a privatização da empresa “está no radar”. Mourão faz o jogo das importadoras, ao dizer que o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo, mas não “na produção de combustível”, escamoteando a responsabilidade do governo com a política de preços da Petrobras, que é subordinada ao valor do barril no mercado internacional, ao dólar e aos custos de importação. “Não adianta importar por 10 pra vender aqui por 5. Quem é que vai fazer isso? Vai ter que vender pelo menos pelo mínimo que está importando”, alegou Mourão.
Vamos aos fatos:
A Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) informou que o Brasil alcançou em julho deste ano uma produção de 3 milhões e 100 mil barris de petróleo por dia. Segundo a ANP, nesse mesmo mês, o consumo diário de derivados de petróleo no país foi de 2,4 milhões de barris, enquanto as refinarias brasileiras produziram 1,9 milhão de barris de combustíveis.
O que Mourão não explicou é que as refinarias da Petrobras podem refinar 2,4 milhões de petróleo por dia, mas, por decisão da gestão (que é controlado pelo governo federal), elas estão refinando abaixo dessa capacidade.
Desde que a política de preço de paridade de importação (PPI) foi implantada em 2016, as refinarias tiveram a carga de produção reduzida e operam hoje com uma média de 75% de sua capacidade total. Com isso, o Brasil passou a importar cada vez mais derivados, principalmente dos Estados Unidos.
Quem ganha com essa política são as importadoras de combustíveis. No caso da gasolina, a produção atual das refinarias é suficiente para abastecer o mercado interno, mas, mesmo assim, o Brasil está importando gasolina a preços internacionais.
Já em relação ao óleo diesel e ao GLP (gás de cozinha), o país precisa aumentar a produção nacional em 24% e em 37%, respectivamente, para deixar de importar esses produtos. Ou seja, se as refinarias da Petrobras operassem com 100% da sua capacidade, praticamente não precisaríamos importar derivados.
E mais: se a expansão do parque de refino planejado nos governos Lula e Dilma (construção das refinarias Premium 1 e 2, do Comperj e do Trem 2 da RNEST) não tivesse sido interrompida pelo golpe de 2016, o Brasil estaria hoje exportando derivados e não óleo cru, o que significaria mais empregos e valor agregado para o país. Em vez disso, a gestão da Petrobras está transferindo nosso petróleo para outros países refinarem e a importadoras lucrarem.
Quem mais lucra com isso? Os acionistas privados, que irão receber agora em dezembro R$ 63,4 bilhões em dividendos (o maior valor já pago pela empresa), e as multinacionais que estão se apropriando das refinarias da Petrobras a preços muito abaixo do valor de mercado.
É o que está acontecendo com a RLAM, na Bahia, com a REMAN, em Manaus, e com a SIX, no Paraná. Essas três refinarias estão tendo a privatização contestada pela FUP e seus sindicatos, que denunciam uma série de arbitrariedades nos processos de venda, além dos riscos de formação de monopólios privados regionais, o que aumentará ainda mais o preço dos combustíveis.
E sob o comando de Bolsonaro, a gestão da Petrobrás quer vender ainda as refinarias do Sul – REPAR (no Paraná) e REFAP (no Rio Grande do Sul), de Minas Gerais (REGAP) e as demais unidades do Nordeste: a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, a Fábrica de Lubrificantes do Nordeste (LUBNOR), no Ceará, e a Refinaria Clara Camarão, no Rio Grande do Norte.
Em vez de colocar o dedo na ferida e atacar o PPI, Mourão replica o discurso do mercado, defendendo a venda das refinarias, enquanto posa de nacionalista, ao dizer que é contra a privatização da Petrobras.
Fonte: O Vermelho