VIVEMOS TEMPOS DE RETROCESSO, DIZ MINISTRO DO STF CELSO DE MELLO

Ministro Celso de Mello, do STF (foto: Nelson Jr./SCO/STF)

A volta de fiscais da Prefeitura do Rio à Bienal do Livro para recolher obras consideradas pelo prefeito como ofensivas ao público, gerou protesto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, decano da Instituição.

Em mensagem à imprensa, divulgada pela jornalista Mônica Bérgamo, na noite de sábado, Celso de Mello adverte que “a apreensão de exemplares de um livro com temática LGBT na Bienal do Rio de Janeiro mostra-se inaceitável!!!!”, disse ele.

“Na realidade”, prosseguiu “o que está a acontecer no Rio de Janeiro constitui fato gravíssimo, pois traduz o registro preocupante de que, sob o signo do retrocesso – cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do Estado -, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático!!!!“.

O ministro do STF disse que “mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade destópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República”.

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, divulgou um vídeo na quinta-feira (5) dizendo que não permitiria a circulação na Bienal da obra de HQ “Vingadores – A Cruzada das Crianças”. O título traz em suas últimas páginas uma imagem de dois personagens masculinos se beijando. A notícia de que seriam recolhidas fez com que a obra se esgotasse na feira.

Fiscais da prefeitura chegaram a ir à Bienal na tarde da sexta (6) para verificar a denúncia e apurar se a notificação estava sendo cumprida. Os agentes foram embora sem encontrar qualquer material considerado impróprio.

Na sexta ainda o Tribunal de Justiça do Rio publicou uma decisão liminar que impedia a prefeitura de apreender livros e cassar o alvará do evento. No mesmo dia, o mesmo tribunal suspendeu a liminar e os fiscais retornaram.

Os fiscais foram à Bienal mas continuaram sem encontrar as obras procuradas. Um conhecido youtuber teria comprado todas elas e distribuído aos presentes. No final da tarde e início da noite do sábado houve uma manifestação, com passeata dentro da Bienal, em protesto contra a proibição do prefeito e também contra o presidente Jair Bolsonaro.

Fonte: O Vermelho